O que se está a passar na Venezuela ou no Brasil - num caso com os sabotadores do carácter progressista do regime em vias de derrubarem o seu incompetente titular, no outro já o tendo conseguido e, mesmo com ampla reprovação popular, prestes a porem cobro a toda a legislação pró-trabalhadores criada pelos governos liderados pelo PT - deveria fazer-nos compreender melhor a matéria de que é feita a luta de classes nos nossos dias.
Ao contrário dos que negam os ensinamentos de Marx ou os tentam omitir das discussões, a realidade continua a ser feita da contradição insanável entre o cada vez mais reduzido número de plutocratas (os tais 1% invocados pelo movimento Occupy Wall Street) e os restantes cidadãos do mundo, sobreexplorados pela lógica da globalização e aos quais está prometida a perda de pelo menos metade dos empregos existentes com a aceleração do recurso à robótica para a produção das mercadorias e serviços.
Existe um lado, que é o defendido pelas direitas mundiais, apostado em tudo privatizar, desregulamentar enquanto trata de eliminar todos os obstáculos a tal projeto - sindicatos, jornais, rádios e televisões a ele adversos - e um outro, que tarda a unir-se (embora o tenha começado a fazer em Portugal) decidido a impor políticas ao serviço da ampla maioria dos cidadãos.
O campo dos exploradores tem recorrido a tudo para levar por diante os seus objetivos. Passa pelo suborno de jornalistas, mas também a inserção no campo das esquerdas de quem nelas só está para as destruir (um Felipe Gonzalez capaz de elogiar Pinochet em detrimento de Maduro, um Manuel Valls que reduziu o Partido Socialista Francês à dimensão grupuscular ou um Francisco Assis que, entre nós, aproveita todas as oportunidades para minar a concertação das esquerdas) são exemplo eloquente de como não basta olhar para quem está do outro lado da barricada, porque no nosso existe quem laboriosamente atue no sentido do o enfraquecer. Em situações mais agudas acontece aquilo que se constata na Venezuela, estando disponíveis imagens do You tube onde se veem delinquentes a serem pagos para, depois, irem causar distúrbios e semear vandalismo, que possa ser aproveitável pela manipulada imprensa internacional.
Em Portugal as direitas ensaiaram desde cedo a tentativa de reduzirem o apoio maioritário do eleitorado às esquerdas, tornando-o tão exíguo quanto possível: numa coligação entre o aparelho judicial e os jornais e televisões, quiseram associar o PS à pedofilia na Casa Pia e cuidaram de enlear José Sócrates numa trama, de que nunca conseguiram apresentar provas concretas, mas, com a ajuda de um guru brasileiro hoje preso na Operação Lava Jacto, conseguiram fazer crer em muitos ingénuos a fórmula PS = corrupção.
Tivemos assim a situação estranha de todos os grandes casos comprováveis - mormente o da corte cavaquista concentrada no universo BPN - terem origem nas direitas. O caso dos submarinos deixa tantas dúvidas quanto a Operação Marquês, mas enquanto a imprensa prossegue diariamente a explorar as inventonas desta última, onde mostra o mesmo zelo com aquele singular episódio?
No «Público» de hoje o ministro Eduardo Cabrita congratula-se com o facto de ter visto as direitas receberem um tiro de ricochete com a ignóbil exploração dos mortos de Pedrógão Grande. Pode ter sido a inflexão na capacidade dos cidadãos em dissociarem a realidade da manipulação imposta pelas fontes pouco credíveis que os tentam enganar. Pode ser que se comecem a interrogar se aquilo que lhes querem impingir tem efetiva consistência ou, se pelo contrário, merece contínuo ceticismo.
Vai-se sentindo alguma mudança, quando alguns dos manipuladores em jornais e televisões começam a dar sinais de nervosismo com o que classificam de «ódio aos jornalistas». Mas eles têm sido, de facto, os soldados rasos de uma campanha de mentiras decidida a partir de cima: dos que comandam os partidos das direitas, tendo nos seus cabeças de cartaz meras marionetas da sua estratégia, e são ao mesmo tempo os donos da (des) informação com que nos bombardeiam continuamente.
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