Durante alguns anos dirigi uma empresa de manutenção, que estava incumbida de garantir a melhor operacionalidade possível das instalações administrativas e de alguns sistemas de apoio à fábrica na Autoeuropa. A experiência bastou para compreender quantos anos-luz distavam das práticas negociais da sua Administração relativamente a muitas outras, que também contactava como prestador de serviço.
Nesses anos a paz social estava garantida pela capacidade de concertação entre essa Administração e a Comissão de Trabalhadores liderada inquestionavelmente por António Chora para grande desgosto dos sindicatos comunistas, sempre condenados a servirem de parceiros minoritários num contrato social, que os excluía invariavelmente das decisões finais.
A saída do líder histórico dos trabalhadores da fábrica alemã permitiu aos comunistas aproveitarem a oportunidade para levarem por diante a sua vindicta. Daí a greve marcada para quarta-feira, fundamentada em argumentos de somenos importância, quando está em causa o essencial: o futuro da fábrica em Portugal.
Cegos por uma miopia ideológica, que contradiz muitos dos princípios outrora enunciados em textos do próprio Lenine, os dirigentes sindicais do SITESul parecem importar-se pouco com a forte probabilidade de regressarmos à situação de dez anos atrás, quando o iminente abandono dos modelos então ali montados fazia antever um agravamento ainda maior de uma crise social num distrito bastante causticado pelo desemprego operário.
Foi surpreendente o resultado da votação num plenário, que deslegitimou o acordo assinado pela Comissão de Trabalhadores para garantir o sucesso da produção do novo modelo T-Roc. Será que muitos dos que apoiaram os comunistas já esqueceram quanto andaram preocupados perante a possibilidade se verem sem emprego?
Subscrevo, por isso mesmo o texto hoje assinado por Nicolau Santos, que pergunta se eles saberão mesmo o que estão a fazer. Seria bom que o Comité Central do PCP chamasse à razão alguns dos seus dirigentes sindicais, que julgando espreitar para o longe só veem o seu eventual sucesso de curto prazo. O comunismo pressupõe um outro tipo de ambição: ser capaz de, a exemplo de Newton, alcandorar-se aos ombros dos gigantes e encontrar os caminhos adequados para chegar mais próximo da Utopia que almejam.
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