Agora que já avanço aceleradamente nos sessentas vejo a necessidade de retomar combates, que julgaria irreversivelmente vencidos. O antifascismo como mote para muitas lutas volta a estar na ordem do dia tendo em conta o sucesso eleitoral de gente, que há muito tempo deveria ser considerada tóxica, imprópria para consumo. E isso faz tanto sentido em Charlottesville como em Loures, em Budapeste como em Pas-de-Calais, em Varsóvia como em Manila, em Budapeste como em Viena de Áustria. Com matizes pouco diferenciados entre si a extrema-direita levantou a cabeça e está mesmo a pedir que a decepemos por ação da empenhada militância contra o ódio, a xenofobia e o racismo.
Mas a besta imunda não surge do nada para ganhar súbita importância. O ovo da serpente vai sendo chocado em pequenos factos do dia a dia com os quais podemos ir contemporizando sem lhes atribuirmos a devida dimensão. Felizmente que, por vezes, a reação é imediata e contundente: a história dos livros de exercícios da Porto Editora com distinção para o menino e para a menina evidencia a tentativa nunca abandonada de certos setores em recuperarem um estilo de família em que o homem é o chefe que em tudo manda e a mulher a fada-do-lar destinada a obedecer.. Décadas de luta pela emancipação feminina podem ser postas em causa por exemplos destes, ademais justificados pela inenarrável responsável da editora em como nada teriam de mal, porque se venderiam com grande sucesso.
O governo esteve muito bem quando alegou uma violação grosseira da Constituição e aconselhou a empresa a retirar de venda tão esdrúxulo produto. Mas foi antecedido de um autêntico alarme social em que, mormente nas redes sociais, se levantou um clamor ruidoso para ecoar a indignação por esta forma inaceitável de fascismo ordinário.
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