segunda-feira, 7 de agosto de 2017

A luta de classes que se mantém na ordem do dia

A respeito do marxismo anda por aí uma enorme campanha tendente à sua minimização. A menos de um ano de se comemorar o bicentenário do nascimento do filósofo alemão, e ciente de que ele irá ser bastante referenciado por tal ocasião, há quem tente ignorá-lo, ou o tente reduzir a uma mera curiosidade histórica.
Vem isto a respeito do comentário de Jaime Santos a um texto em que estava em causa a necessidade de se opor ao dogma do crescimento da economia como solução para a redução das desigualdades, a solução contrária. («O crescimento económico: essa grande ilusão»).
No essencial o nosso interlocutor concorda com essa premissa que, eu próprio considerava como admissível como tese a discutir. No que não posso concordar é com a perspetiva depreciativa sobre o marxismo como se esse corpo filosófico não estivesse em permanente renovação em muitas universidades ocidentais com propostas para a sua atualização e respostas para os desafios atuais.
O problema está na distância ainda intransponível entre esses debates académicos e a sociedade onde a sua tradução prática poderia servir de resposta aos impasses hoje pressentidos neste capitalismo globalizado. Assim se explica que quem teria mais a ganhar com a inversão na relação de forças entre as classes sociais em confronto enverede pelo tal populismo de que fala Jaime Santos. Porque muitas das hipóteses em questão, desde a da redução dos horários de trabalho à taxação fiscal do uso intensivo da robótica e da automação na produção de mercadorias e serviços enquadram-se perfeitamente numa análise neomarxista do momento presente.
De qualquer forma e não concordando em parte com a opinião de Jaime Santos, considero-a demasiado interessante para a ver apenas cingida à caixa de comentários de um blog:

“O problema é que justamente um mundo em que produziremos menos e consumiremos menos será também um mundo onde iremos trabalhar menos. E quando se olha para a cartilha de todos os Partidos, com exceção dos Ecologistas (os verdadeiros Conservadores), a solução parece passar pelo crescimento, incluindo os Partidos mais à Esquerda, que desejam recuperar as tais soluções de pleno emprego, mantidas à custa, claro, de gastos de dinheiros públicos.
O meu caro não pode querer ter sol na eira e chuva no nabal. Se enveredarmos por soluções de decrescimento haverá necessariamente menos emprego. Será isto um problema? Keynes pensava que não e que o progresso tecnológico se encarregaria de reduzir o nosso tempo de trabalho para poucas horas diárias. Infelizmente, o trabalho não confere só um rendimento, confere também dignidade.
A revolta da classe média baixa, com laivos de neo-ludismo, que vota nos populismos de ambas as cores deriva justamente daí, da dignidade que sentem ser-lhes retirada. Marx pensava justamente numa sociedade em que o trabalho deixaria de ser um meio de rendimento para passar a ser um objetivo de vida. Os Marxistas requentados atuais sonham, ao invés, com o regresso aos idos de 1970…”


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