quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Dar ou não o benefício da dúvida a Marcelo Rebelo de Sousa?

A propósito do texto “Quem disse que o selfieman mudou o seu discurso?, um amigo do facebook emitiu um comentário, que seria pena perder-se na volatilidade daquela rede social, justificando-se a partilha com um universo mais alargado de leitores. Daí ter solicitado, e recolhido a autorização, para o replicar no blogue, sobretudo, por emitir uma opinião diferente, embora não necessariamente contraditória, com a inserida naquele post.
A nossa relativa divergência diz respeito a Marcelo Rebelo de Sousa, que ele apoia com complacência - mas com argumentação bem fundamentada para tal -, enquanto, desde o início não lhe dou o benefício da dúvida.
Fica, pois, á vossa consideração o excelente texto de Francisco Magalhães:

"Uma coisa é aquilo que Marques Mendes, e Cristina Figueiredo, vêm, ou gostariam que fossem, as intenções de Marcelo, escondidas por detrás das entrelinhas das declarações que tem vindo a fazer nos últimos tempos. Outra são, a realidade, e as verdadeiras motivações de Marcelo, que, na minha modesta opinião, nunca passaram por apoiar o governo do PS, ou a oposição de direita, onde pontifica o PSD, por sinal, o seu partido de sempre.
O que ele, verdadeiramente, pretende, é ficar para a História como “O” Presidente, em vez de, e apenas, mais “UM” Presidente. Ele quer ser, um dia, recordado como O Presidente do rigor…, interveniente, e eficaz. O Presidente interessado e isento. O Presidente moderado, e moderador. O Presidente equidistante e imparcial. O Presidente omnipresente, e próximo. O Presidente, cujo mandato tirou Portugal do “lixo”, e se saldou por um período de recuperação económica sustentada. O Presidente que impôs moderação e responsabilidade, aos partidos, e ao governo em funções, uma governação patriótica e exemplar. O Presidente que se preocupava, e que queria, e sabia, ouvir as pessoas…, uma espécie de Rainha de Inglaterra, amada pelo povo, e respeitada por todos. No fundo, a antítese, do que foi, e foram, os mandatos de Cavaco, que lhe deu o mote, e fez tudo por facilitar-lhe a tarefa…!
Na minha perspetiva, tem sido, até agora, um bom Presidente! Se um dia, o deixar de ser, deixará de ter o meu apoio. Mas, se o atual governo, ou a atual fórmula governativa, com que simpatizo politicamente, deixarem de ser eficazes, não o condenarei se passar a apostar noutra que envolva o seu partido natural, ainda que não possa, com toda a certeza, continuar a merecer o meu apoio. 
Porque razão se havia de lhe exigir, no caso de incumprimento, ou de manifesta incompetência governativa, que continuasse a dar cobertura ao atual executivo, ou a sustentar a atual fórmula de entendimentos que o suporta no parlamento…! Aí sim, poder-se-ia falar de um manifesto “apoio”, contrário à logica e ao papel de supervisor “equidistante” e “imparcial”, que o Presidente da Republica deve esforçar-se por manter…?!
E porque razão, não há-de, igualmente, ter o direito de poder “sonhar”, e “trabalhar”, para a reeleição, num segundo, ou terceiro mandatos…?! Não vejo onde está o “caso”, ou que esta sua intenção, seja merecedora de quaisquer objeções. É a ordem natural das coisas, e o que sempre tem sucedido nos mandatos anteriores.
Quanto à possibilidade de Pedro Duarte poder vir a substituir PC à frente dos destinos do PSD, e de poder vir a colher o apoio de Marcelo, caso venha a ser escolhido, e eleito, não me parece que o Presidente sacrifique os projetos que idealizou para si próprio, e para o futuro do país, em nome de uma hipotética proximidade, ou até de uma eventual amizade. Particularmente tratando-se de um militante, que, ainda que merecedor da sua confiança, se autopropõe candidato á liderança, e que, notoriamente se chega á frente com o propósito de ganhar dividendos políticos, e votos, dentro do partido, à custa do seu “encosto” a Marcelo. Parece-me pouco provável, mas não impossível caso Marcelo se decida a intervir no seu partido, e esteja disposto a correr os riscos do seu envolvimento.
Estará, desde logo, e mais cedo do que o esperado, a candidatar-se a ceder, e a ver-se privado do bem mais precioso de que dispõe hoje…, a liberdade. Liberdade para escolher, decidir, e agir. Depois dará conta de estar enredado numa complexa teia de contradições entre dois projetos políticos, incompatíveis…, o do empobrecimento protagonizado pelo PSD, e o seu próprio, mais humanista, e próximo do defendido pelo governo do PS de António Costa. 
Caso a experiência acabe por se saldar por um fracasso, os seus projetos, e ambições pessoais, acabarão no caixote do lixo. Ele acabará refém do partido, obrigado a assumir compromissos e cumplicidades, para salvar o partido, e a si próprio. Por tudo isto, não vislumbro porque razões se disporia a expor-se desnecessariamente, quando a sua convivência, e a “entente”, com António Costa, se tem revelado tão populares, e tão promissoras.
O “fait-divers” de Pedro Duarte tem no entanto a sublime virtude de confirmar as evidências, e alimentar o “ruído” sobre a existência de uma, cada vez maior consciencialização, dentro do PSD, de que Passos Coelho é, há já muito tempo, um “líder” a prazo, e que, por mais que gesticule, por mais esgares e sorrisos que ensaie, por mais alto que grite, já não convence, nem assusta ninguém, muito particularmente os comensais dos “comícios ajantarados”, em que se desdobra em mentiras e promessas que não tem intenção de cumprir, e que, cada vez mais se assemelham, àquelas sessões, organizadas por algumas empresas, para divulgar, e impingir, os seus “milagrosos” produtos, que, apesar de tudo, tem, em relação aos vendidos por Passos Coelho, a grande vantagem de não serem contrafeitos.
Não acredito, portanto que, a menos que lhe deem motivo para isso, Marcelo se prepare para, á má fé, fazer detonar a tal “Bomba”…!
Não quero, no entanto, transmitir a ideia de que dou uma no cravo e outra na ditadura. Mas é a “tal coisa”, a política não é uma ciência exacta..., estamos ainda, e sempre, no campo das hipóteses. Além disso, sou, e procuro ser, mesmo quando falo de política, um optimista, e recordo sempre uma dica que me deu, um dia, um colega da escola…, “nunca tremas, sem primeiro ver abanar…”! 
Verdade seja dita que, também não me considero um ingénuo, e recordo muitas vezes aquela outra expressão popular…, “cuidados e caldos de galinha, nunca fizeram mal a ninguém”. 
Daí, concordar consigo, e achar que vale sempre a pena estar atento, sobretudo aos sinais, para não sermos, um dia, surpreendidos. Mas acredito que o ultimo mandato presidencial, é, normalmente, o mais crítico, e o mais revelador da personalidade, e das intenções de quem o exerce…! Cavaco foi mau…, foi mesmo muito mau. Sobretudo no seu ultimo mandato. Esperemos que quem se lhe seguiu, não venha a fazer dele “bom”….?! (*)
(*) “Depois de mim virá, que de mim bom fará…”!)"

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