O que surpreende no atual PSD é a incapacidade para retirar ilações da sua estratégia recente quanto à utilização necrófaga dos mortos de Pedrógão Grande. Nem com as sondagens a demonstrarem-lhe o desagrado dos inquiridos com essa abusiva campanha antigoverno despegam do assunto, avançando agora para o questionamento das horas que o INEM terá perdido às voltas pelas estradas ameaçadas pela progressão do incêndio até entregar um bombeiro ferido na instalação hospitalar adequada para o ver socorrido.
Esta nova investida replica a estratégia dos procuradores da Operação Marquês que, acumulando sucessivos fracassos nas várias frentes entretanto abertas para detetarem alguma prova concreta contra José Sócrates, não encontraram melhor argumento do que voltarem à carga com a suposta compra por atacado da edição do livro por ele escrito sobre a tortura.
Mais inteligente nos seus propósitos Marcelo Rebelo de Sousa também teima na utilização da tragédia de 17 de junho: não havendo matéria na agenda, que lhe permita abrir os telejornais lá o vemos de regresso á zona incendiada para repetir ad nauseum a expressão melodramática tão útil para consolidar a ideia de se tratar de alguém muito dado a emoções. (E sabemos bem como o eleitorado mais iletrado tanto se deixa manipular por essas comoções!).
Ignóbil na conduta, José Manuel Fernandes imitou Assunção Cristas na apetência por se colar à popularidade presidencial. Graças a um donativo facultado pela malandragem, que lhe financia o «Observador», conseguiu posicionar-se para ser lembrado nos telejornais, pondo-nos a questionar se estávamos a ver notícias, se uma nova versão da «Noite dos Mortos Vivos».
Mas a falta de notícias, agora que muitos governantes e oposicionistas estão a banhos, e os futebóis ainda acabam de arrancar, torna propício o recurso às fake news. E, nesse aspeto, não foi nada inocente a manchete com ministros e ex-ministros supostamente arguidos de uma investigação, que o Ministério Público se apressou a desmentir.
Perante consecutivos fracassos nos objetivos, as direitas, quer representadas pelos seus atores políticos, quer sobretudo pelos seus omissos financiadores e inspiradores, utilizam receitas já requentadas, e, por isso mesmo, ineficazes. As esquerdas devem, porém, manter-se-atentas não vá chegar dos brasis algum talentoso guru, que consiga pôr esquimós a comprar cubos de gelo. É que os portugueses já mostraram em 2011 e, até certo ponto, em 2015 como facilmente se deixam enganar por mensagens destinadas a deixarem-se espoliar com um sorriso alarve de contentamento nos lábios. Por ora quase 35% dos que a Eurosondagem consultou revelam ainda nada terem aprendido...
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