terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Um ano difícil para a locomotiva alemã

A análise que o editor do Financial Times Wolfgang Münchau faz sobre o que será o ano em curso para a economia alemã, merece estar presente na nossa própria abordagem da realidade nacional, ou não decorram problemas internos dos que surgirem naquela suposta locomotiva de toda a União Europeia. Ainda assim alguns desses condicionalismos até podem revelar-se benéficos para a governação de António Costa.
Para Münchau o problema mais imediato de Merkel residirá na integração do milhão de refugiados albergados dentro das fronteiras alemãs, porque a maioria não possui as habilitações necessárias para o mercado do trabalho local pelo que entrarão, sobretudo, em competição com o setor dos mais baixos salários, condenados a baixar.
Além do efeito político não despiciendo - o crescimento da extrema-direita local - essa nova realidade causará um choque deflacionário, que constituía a última coisa de que a Alemanha e a zona euro precisam agora.
Um segundo fator a causar dissabores a Merkel é a crise generalizada nas economias ditas emergentes, que significará uma queda abrupta nas exportações. Ora a maioria dos alemães não tem consciência dessa dependência da sua indústria dos mercados externos e será para muitos uma surpresa o desemprego inevitável aí iminente.
Outra dificuldade acrescida tem a ver com as sequelas do escândalo na Volkswagen: excessivamente dependente da indústria automóvel, a Alemanha dificilmente evitará uma quebra de produção nas fábricas do setor e a consequente redução nas exportações.
E, last but not the least, 2016 será o ano em que aumentará a contestação contra o domínio alemão na zona euro. Fragilizado pelos seus sucessivos problemas, o governo de Merkel terá maiores dificuldades em reagir à ação concertada de diversos governos para os quais o espartilho austeritário imposto a partir de Berlim não faz sentido numa altura em que se comprovou o seu fracasso experimentalista. E este último condicionalismo será de todos o que melhor poderá servir ao atual governo português para levar por diante a sua estratégia de crescimento económico.

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