Passou uma semana sobre a vitória de Marcelo Rebelo de Sousa na eleição presidencial e não faltou quem nela visse uma grande derrota do Partido Socialista. As televisões foram inundadas de doutas opiniões, que sublinharam as sucessivas derrotas eleitorais socialistas, que adivinhariam um crepúsculo cada vez mais sombrio para um dos partidos estruturantes da nossa Democracia. E não faltou o inefável Álvaro Beleza a ajudar à festa, alertando para a urgência em arrepiar caminho - o que implicitamente só pode significar a mudança de alianças políticas, abandonando as firmadas com o Bloco, com o PCP e com os Verdes, para as formar com a direita - sob pena de tal destino se confirmar.
Daí a razão de ser da minha oposição como militante de base do PS, à lógica de unidade com quem não compreendeu ou compreendeu bem demais o que significava este “tempo novo” anunciado por Sampaio da Nóvoa.
Este último ano e meio, entre a disponibilização de António Costa para a liderança e a eleição de 24 de janeiro, permitiu um claro separar de águas entre quem quer um PS moderno, combativo e apostado nos valores matriciais da Igualdade, da Justiça e da Fraternidade, e os que se deixaram ficar num outro tempo e já não têm pedalada para acompanhar a dinâmica da nova geração de dirigentes, que acolitam António Costa na atual direção do partido.
Foram estes protagonistas do tempo “velho” quem se coligaram na candidatura de Maria de Belém: os que compreendendo bem o que significa o “tempo novo” e o querem obstacularizar, e que tinham em António José Seguro o seu testa-de-ferro. Álvaro Beleza, porventura o seu mais arguto guru, tinha nesse líder o veículo ideal para cumprir o sonho de transformação do Partido Socialista, de acordo com as ideias que o fazem regularmente, e há muitos anos, pré-candidato a secretário-geral do PS.
Se por absurdo ele viesse a ser ungido nessa função, teríamos um cenário semelhante ao atual PS francês (mal) conduzido por Manuel Valls, que ambicionava mudar-lhe o nome por achar «Socialista» um termo fora de moda. A anunciada derrota clamorosa do Partido nas próximas eleições - se não houver quem ponha cobro à sua deriva direitista! - elucida bem a pasokização que atingiria o PS.
Mas a tal clarificação entre quem aposta no PS, que a grande maioria dos seus militantes e simpatizante, ambiciona ver, e os que teimam em amarrá-lo à lógica clientelar anterior, foi bem evidente no comportamento quanto à candidatura de Sampaio da Nóvoa.
Os que vislumbraram os valores comuns do governo de António Costa e os que estavam bem sintetizados na Carta de Princípios do antigo reitor da Universidade de Lisboa, deram o litro para que ele fosse eleito. Fundaram Núcleos um pouco por todo o país e investiram muito do seu tempo e dinheiro para que a direita não tivesse novo inquilino em Belém. Porque compreenderam que, mesmo com pele de cordeiro, ali se acoitará em breve um astuto lobo com cujas intrigas há a contar proximamente a cada esquina da governação. Os outros, os que apostaram na humilhante proposta de Maria de Belém ou se mantiveram comodamente instalados nas suas pantufas, mostraram que dificilmente se poderá contar com eles.
É por isso mesmo que não me assustam as promessas de derrotas rotundas do PS no futuro próximo e a médio prazo. Da dinâmica criada em torno dos Núcleos SNAP surgiram vontades indómitas, que querem ver o «tempo novo» frutificar. E esse é um mau sinal para a direita, ela sim condenada a longa travessia no deserto, se António Costa tiver sucesso inquestionável na sua governação.
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