quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Diz-me que mandatários tens, dir-te-ei quem és!

Há três anos o país riu a bandeiras despregadas com o surgimento em cena do inefável Artur Baptista da Silva, que apresentava-se como membro do PNUD e supostamente encarregue pela ONU de montar em Portugal um Observatório dos países da Europa do sul em processos de ajustamento.
Deu conferências e surgiu no «Expresso da Meia-Noite» até ser desmascarado como uma fraude capaz de, momentaneamente, iludir um dos melhores jornalistas portugueses (Nicolau Santos).
Menos divertida, porque com propósitos bem mais desonestos, foi a notícia do mesmo «Expresso» em fevereiro de 2015, que dava conta da nomeação da catedrática portuguesa Isabel de Oliveira para vice-reitora da Sorbonne.
O país embandeirou em arco com a notícia e Marcelo exaltá-la-ia como exemplo de portugueses de grande sucesso no estrangeiro.
Em entrevistas dadas na ocasião a referida Isabel de Oliveira apresentava-se com ambições megalómanas até porque apadrinhada pelo secretário de Estado do anterior governo, José Cesário.
A não ser travada a mentira não nos teríamos admirado, que ela estivesse atualmente sentada no hemiciclo de São Bento como deputada do PSD.
Só que a mentira tinha perna curta e logo foi denunciada pela comunidade universitária portuguesa em Paris e pela jornalista da «Visão» Ana Navarro Pedro.
Soube-se, assim, que não só Isabel de Oliveira não era catedrática, mas «maître de conférences», como a sua “Sorbonne” era a “Paris 3” cujo prestígio nada tem a ver com a instituição clássica assim conhecida.
O escândalo atingiu uma tal dimensão, que ela nem sequer tomou posse do cargo com que se tinha pretendido promover, e para a qual não fora eleita, mas simplesmente nomeada por quem se deixara seduzir pelo seu feitio bajulador.
Já teríamos deixado Isabel de Oliveira cingida ao merecido anonimato a que os seus talentos deveriam devotar, quando nos surge à frente uma entrevista para o «Luso-Journal», uma das publicações mais lidas pelos emigrantes em França e na qual ela se apresenta como mandatária de Maria de Belém para a Europa. E a parte final desse naco de prosa é risível: Maria de Belém sabe que não sofro do vírus de falta de caráter que destrói a dignidade para preencher todos os interesses adequados ao desvio de conduta. Há, por exemplo, certos limites que, sendo violados, ferem a legitimidade de quem assim procede, beneficia e cauciona. Esta não é a minha forma de estar na vida, rejeitando categoricamente atitudes de sede de poder pelo poder, sem qualquer pudor, tudo vale, mas futuramente desenvolverei mais esta minha reflexão…”
Para quem andou a colocar-se em bicos de pés para satisfazer a pulsão arrivista, este ato de fé não deixa de ser eloquente. Mas também diz muito sobre a candidata por ela apoiada. É caso para dizer: “diz-me que mandatários tens, dir-te-ei quem és!” 

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