terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Dia 2 da campanha

O segundo dia de campanha permitiu tirar  três conclusões: a direita conta com três candidatos a disputarem entre si o mesmo eleitorado, o que faz tremer Marcelo Rebelo de Sousa - cada vez mais inseguro quanto ao sucesso do seu one man show -, e é Sampaio da Nóvoa quem acelera numa imparável dinâmica de vitória.
Mas esmiucemos cada uma dessas conclusões: se houve candidato presidencial, que quis preencher o vazio do passismo, defendendo a inevitabilidade da austeridade, condenando o despesismo público dos governos de José Sócrates e apontando António Costa como mira principal dos seus ataques, ele foi Henrique Neto. Truculento, para não dizer troglodita, como Medina Carreira, ele agrada à direita que vê Marcelo dizer que não fará guerra a António Costa tão-só chegasse à suprema magistratura do país.
Mas a direita conta também com Maria de Belém, que satisfaz o setor das “boas almas” que vivem da caridadezinha e alimentam, consciente ou inconscientemente, o  obsceno negócio das Misericórdias. Cada vez mais execrada pelos socialistas, que bem se lembram como a sua passagem pelos cargos ministeriais nada significaram em  mudanças de política digna de nota, e a forma como quis boicotar António Costa, quer como presidente do Partido, quer já como putativa candidata presidencial, poderá receber votos dos que, temendo ver Marcelo confrontar-se com Sampaio da Nóvoa na segunda volta, preferirão dar o voto àquela que dele se tornaria presa fácil nessas circunstâncias.
Quem estará já a fazer contas de cabeça à forma como as coisas lhe estão a correr é o próprio Marcelo que, não só já sente o esgotamento da fórmula de campanha eleitoral escolhida - ainda por cima capaz de o exaurir fisicamente! - mas porque não consegue contrariar o fluxo quotidiano de notícias, que vão atribuindo ao seu principal rival as salas esgotadas nos jantares e comícios.
Por isso já teve de verbalizar a assombração do fracasso de Freitas do Amaral em 1986, que teme repetir, e procura iludir o desprezo popular que pressente no fracasso das arruadas como a da Guarda, onde teve de pedir aos que acompanhavam: Vamos juntinhos para parecermos muitos”.
Verdadeiramente a sério só Sampaio da Nóvoa está a dar passos firmes para Belém. Não só por ser o único a ter uma campanha popular, no que isso significa de empenhamento de milhares de cidadãos na organização e participação dos eventos com ela relacionados, mas por ser o único, que vai proferindo discursos com substância. Por exemplo, quando explica o momento certo para um Presidente diferente dos que conhecemos até aqui: Portugal já teve um presidente militar, quando a estabilidade do jovem regime democrático teve que ser conquistada a pulso. Teve vários presidentes vindos dos partidos — que consolidaram uma democracia madura. Quando a crise da participação cidadã é um dos maiores bloqueios e desafios que se colocam à nossa democracia, sabemos que chegou o tempo de um presidente cidadão. Esse tempo é agora.”
E esclarece, porque a cidadania tem de se conjugar com prosperidade e crescimento económico: “A crise da participação democrática, não nos podemos esquecer, anda de mãos dadas com a crise económica.”
Daí a importância do tempo novo, que começámos agora a viver: “o modelo social e o Estado de direito que associamos à Europa, e ao ideal europeu, foi sendo fortalecido e renovado no pressuposto de que cada geração viveria melhor do que a dos seus pais. A forma como a austeridade e absurdos níveis de precariedade laboral têm vindo a colocar em cheque o contrato social europeu está a minar os alicerces da própria democracia.”
E, pormenor importante para muitos republicanos, lembra que, ao contrário de Marcelo, nunca serviu uma instituição monárquica (a Fundação da Casa de Bragança), possuindo por isso legitimidade acrescida para personificar a primeira figura do Estado.

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