A comunicação social continua a ser notícia por ela mesma, o que é péssimo sinal: deveriam ser as notícias a focalizarem a nossa atenção e não a forma como elas são deturpadas.
Comecemos pela chegada dos técnicos da troika a Portugal. Desde a semana passada, que eles eram anunciados como arautos da desgraça, que iriam encostar o governo às cordas e fazê-lo arrenegar tudo quanto decidiu nestes dois meses, ou ver-se-expulso do poder por «indecente e má figura» relativamente aos omnipotentes mercados.
Afinal vieram uns técnicos de quinta categoria, que conferenciarão com outros de idêntica importância do ministério das Finanças.
Que diferença em relação a visitas anteriores em que as televisões seguiam-nos passo a passo e lhes davam a palavra perante as câmaras. Agora, para manterem alguma continuidade na campanha de intimidação sobre o governo, as várias televisões viram-se obrigadas a repetir até à náusea as imagens do passado, quando os elementos da troika quase pareciam os astronautas da missão Apolo no filme «Os Eleitos», quando se preparavam para ser apresentados à imprensa da época.
A montanha pariu manifestamente um minúsculo rato!
Já de hoje foi a notícia de que a Comissão Europeia teria recusado o draft do orçamento enviado por Mário Centeno com as linhas macroeconómicas em que assenta o documento a ser-lhe em breve endereçado.
Foi ver Montenegro comprazer-se com o seu risinho tolo a convidar o Governo a recuar, mostrando como o povo tem razão, quando diz que o bom julgador por si se julga. É que Passos Coelho ajoelhava-se e cumpria tudo quanto lhe mandavam, enquanto António Costa é de uma outra fibra: exige que sejam cumpridas as regras de uma negociação digna desse nome. E o episódio de hoje mais não é do que um dos momentos desse terçar de armas entre um governo orgulhoso e determinado e uma Comissão dominada pela direita, mas fragilizada pelo rotundo fracasso das suas estratégias austeritárias.
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