A capa da edição desta semana do «Charlie Hebdo» já está a causar reações ásperas do Vaticano, ao apresentar um deus em fuga, identificado em título como um assassino.
Muito embora o atentado terrorista de 7 de janeiro de 2015 tenha tido motivações islamitas, o jornal satírico colocou - e, a meu ver, muito bem! - as religiões todas no mesmo saco, já que todas elas têm muitos crimes na consciência pela forma como facilmente se deixam fanatizar.
Se o Daesh é o caso mais tenebroso de quantos nos podem indignar atualmente, não podemos esquecer o sofrimento dos muçulmanos Rohingya no Myanmar às mãos assassinas dos budistas, o dos palestinianos de Gaza condenados pelos judeus israelitas a sobreviverem num gueto ou a forma como os hindus de muitas regiões da Índia aterrorizam todos quantos não seguem os seus ritos.
Razão tinha José Saramago, quando, ao falar do deus da Bíblia, o dizia “rancoroso, vingativo e má pessoa”. Ora são essas as características dos outros deuses das variadas latitudes, quando invocados pela ignorância assassina dos respetivos crentes para assassinarem os que tomam por inimigos.
É por isso que a capa do «Charlie Hebdo» faz todo o sentido. Por muito que, hoje simpatizemos com a bonomia do Papa Francisco, o que as vítimas de há um ano nos lembram é que o principal culpado - a intolerância causada pelo fanatismo religioso - continua sem se sentar no banco dos réus.
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