1. Nas suas «Máximas e Reflexões» Goethe constatava a inevitabilidade da luta incessante entre o velho e o novo. E Hegel entenderia esta realidade como uma Dialética em que de duas contradições sairia vencedora só uma delas, que, mais tarde ou mais cedo, suscitaria novas contradições. Assentaria nesse processo dinâmico a raiz da evolução das sociedades.
Ontem escrevi erradamente que a CGTP preparava a desconvocação da greve da Função Pública no que indiciava a prevalência da sensatez comunista revelada na assinatura do acordo com o PS para a viabilização do governo de António Costa.
Afinal enganei-me, quando vi nessa leitura a vitória do pragmatismo sobre a cristalizada ortodoxia e o entendimento relativamente às causas da fraca votação em Edgar Silva. É que a leitura feita pelo Comité Central pode ser correta - muitos dos seus eleitores preferiram Sampaio da Nóvoa (embora muitos outros tenham dado o salto para o outro lado e escolhido Marcelo!) - mas esquece o principal: os que, durante a campanha para as legislativas, incentivaram Jerónimo de Sousa a concretizar a coligação com a esquerda socialista, foram agora indiferentes à orientação do Partido quanto ao candidato em quem deveriam votar. Constata-se uma redução do núcleo dos indefetíveis, aqueles que tapam as orelhas para ouvir alternativas e continuam a seguir religiosamente a cartilha do seu líder.
É por isso mesmo que prevejo um resultado muito comprometedor para Ana Avoila e Arménio Santos na forma de luta escolhida para esta semana: aposto em como muitos dos associados dos respetivos sindicatos darão o benefício da dúvida ao novo governo e ignorarão a convocatória da greve. Porque a recuperação dos rendimentos e as 35 horas estão-lhes garantidas, mesmo que com algum atraso em relação aos desejos dos seus dirigentes sindicais.
A incapacidade quanto à incompreensão do tempo novo em que vivemos levará a cúpula sindical do PCP a cometer erros crassos e contraproducentes para os seus objetivos futuros.
2. Mas a luta do novo contra o velho acontece também nos socialistas, e não só nos portugueses. É sabido que os barões do PSOE andam a pressionar Pedro Sanchez a não avançar para um governo semelhante do do seu vizinho ibérico. Como sucedeu com os barões do PS nos dias seguintes às eleições legislativas de 4 de outubro quando, pela voz de Francisco Assis, aconselhavam António Costa a estender o tapete vermelho à recondução de Passos Coelho.
Foi, pois, com a maior das naturalidades que, mesmo tendo apoiado Costa nas primárias contra Seguro, eles tenham revelado a incompreensão deste tempo novo apoiando Maria de Belém na sua sabotagem à estratégia delineada pela Direção Nacional do PS para contarmos com um Presidente de excelência em Belém.
Jorge Coelho tem razão quando considera injusta a colagem de segurismo à candidatura de Maria de Belém. Porque quem verdadeiramente a apoiava era o lado «velho» do PS de que o segurismo era apenas uma das componentes. Para os Veras Jardins, os Belezas, os Albertos Martins e seus compinchas, este PS do tempo novo, assusta porque constitui a expressão de uma forma nova de fazer política sem clientelismos e com abertura aos que, de fora, são capazes de contribuír para a sua renovação.
Só é pena que Manuel Alegre, que foi um dos primeiros a saudar a crescente importância dos «jovens turcos» (Pedro Nuno Santos, João Galamba, Fernando Medina e outros excelentes políticos dessa geração), seja agora um dos mais amedrontados com a sua afirmação.
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