O que podem ter a ver as notícias sobre a batota no mundo do ténis, a queda abrupta e pouco compreensível das ações da Mota-Engil ou o mais recente relatório da Oxfam? Aparentemente pouco, mas se as melhor detalharmos acabamos por compreender como tudo se relaciona.
Em primeiro lugar a notícia de jogos combinados entre alguns dos principais tenistas profissionais - todos eles do top 50 - em cumplicidade com apostadores russos e italianos demonstra como está instituída a corrupção ao mais alto nível do desporto, há muito dissociado da inocência dos tempos de Pierre de Coubertin.
Ludibriar a verdade desportiva para que uns espertos ganhem fortunas no mundo sórdido das apostas é algo que condiz bem com este capitalismo sem escrúpulos, onde todos os meios são bons para poucos enriquecerem à custa da grande maioria dos seus concidadãos. E é isso que também se passa com as Bolsas mundiais, onde se multiplicam os movimentos suspeitos como os que, em cinco horas, fizeram a Mota-Engil perder 1/5 do seu valor.
A nossa realidade económica parece impensável sem esse autêntico casino financeiro onde supostamente se criam as condições de investimento para fazer funcionar a economia real. Ora, se é certo que se esfumou a ideia tatcheriana de tornar todos os cidadãos em investidores na Bolsa - quantos milhões não perderam assim as suas poupanças? - os movimentos como o de ontem na Bolsa de Lisboa garantiram por certo apreciáveis mais-valias a um punhado de conspiradores e não menos prejuízos a inúmeros pequenos e médios acionistas. Quiçá mesmo a investidores institucionais, que mais não são do que os do Estado, que todos representamos. E, neste caso, prejuízos como os agora verificados recaem mais ou menos diretamente nos nossos bolsos.
E, no entanto, ainda há quem faça escândalo com aquisições de faqueiros para o o património do Estado, como se as verbas comparativamente irrisórias neles investidas se pudessem comparar aos muitos milhões movimentados pelos tubarões, que se comportam nas Bolsas como bandos do antigo Faroeste!
É por essas e por outras que se têm cavado as desigualdades entre os muito ricos e os muito pobres, como se depreendem dos números agora relatados pela ONG britânica: em 2015, 1% da população mundial já tem mais riqueza acumulada do que os restantes 99%.
Esta obscena desigualdade comprova a urgência em pôr cobro à deriva imparável deste capitalismo causador de tanto sofrimento. Uma nova realidade tem de emergir antes de atingirmos o caos, que se perspetiva no futuro próximo se não atalharmos a tempo para um outro caminho. E essa é uma urgência pressentida por um número crescente de pessoas. A tal ponto que as primárias norte-americanas ganharam súbito interesse com Bernie Sanders a aproximar-se seriamente de Hillary Clinton nas sondagens, apesar do seu discurso assumidamente socialista.
Ainda não será desta feita que esse tipo de proposta chegará à Casa Branca, mas o entusiasmo com que as ideias do senador do Vermont estão receber acolhimento nas camadas mais jovens e instruídas do Partido Democrata faz supor a possibilidade de, a médio prazo, ser exequível a vitória de um candidato descomprometido com Wall Street como até aqui tem acontecido.
Quem disse que ser realista é pedir o impossível?
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