Será muito difícil que as televisões coniventes com a campanha de Marcelo Rebelo de Sousa consigam escamotear o impressionante sinal do estado das coisas na eleição presidencial dado pelo grande almoço-comício de Lisboa de hoje e que evidencia o apoio de milhares de portugueses à melhor das propostas a serem consideradas daqui a uma semana: a de Sampaio da Nóvoa.
É que, além das quase duas mil pessoas reunidas no Pavilhão do Casal Vistoso, muitas outras ficaram de fora, depois de se terem esgotado as inscrições em menos de quarenta e oito horas.
Está reafirmada uma dinâmica, que nem a soma de todas as nove demais candidaturas consegue igualar, mesmo contando com a militância dos comunistas e dos bloquistas. Desmentindo as sondagens, cujos resultados até poderão virar o feitiço contra o feiticeiro, a candidatura de Sampaio da Nóvoa faz jus ao facto de ser a única verdadeiramente independente dos partidos e com ideias substantivas quanto ao exercício dos poderes presidenciais.
Marcelo Rebelo de Sousa arrisca-se a ver frustrada, mais uma vez, a tentativa de chegar á ribalta política com estratégias originais. O resultado do seu one man show é a incapacidade em mobilizar o seu eleitorado natural para o dia 24 (para quê a maçada de se deslocar às urnas de voto, se ele «já ganhou»?), mas também o de acumular um cansaço crescente, que o leva a desejar a rápida conclusão de todo este período de campanha sob pena de cair, entretanto, de exaustão.
A confirmar-se uma segunda volta onde irá ele arranjar energia para manter uma permanente exposição pública, que até na sua aparente novidade já se esgotou?
Para os que vão mais além na análise do que ele tem dito, conclui-se facilmente pela atitude desrespeitosa relativamente ao cargo a que quer ascender, porque, ao ver-se como um mero árbitro entre os diversos partidos e forças sociais, Marcelo imagina-se mais um rei do que um presidente, o que nem é motivo de admiração dado ter sido até recentemente o administração da Fundação da Casa de Bragança. Por isso mesmo, esse seu inconfessado pendor monárquico ilegitima-o para o exercício das mais altas funções da República.
Não merecendo que se percam muitas linhas com a sua candidatura, Maria de Belém andou a tirar jokers da cartola, mas já todos eles sem o valor político de outrora. Jorge Coelho apareceu envergonhadamente só para não desmerecer de amizade antiga, motivos igualmente percetíveis em Manuel Alegre ou em Vera Jardim, manifestamente incomodados por se verem tão contra a corrente dominante de todo o Partido Socialista, muitíssimo mais representado nos apoiantes de Sampaio da Nóvoa.
E se Marisa Matias ou Edgar Silva cumprem as tarefas de fazerem de Marcelo o fogo cruzado dos seus disparos oratórios, os demais candidatos alternam entre o anedótico e absurdo.
Falta uma semana para as urnas oferecerem a única sondagem válida sobre a vontade dos portugueses, já que as até agora conhecidas são tão duvidosas que, nalguns casos nem sequer são acompanhadas das respetivas fichas técnicas pelas quais conheceríamos qual a percentagem de participantes com opinião definida por um dos candidatos, qual a dos que não irão votar e qual a dos que não sabem ou não respondem.
Nas televisões a incerteza é tanta, que poucos se atrevem a secundar Marcelo no convencimento de que tudo ficará resolvido no dia 24 de janeiro.
Como diriam os que se rebelaram há quase cinquenta anos nos boulevards parisienses; encore un petit effort… para ter o presidente que Portugal merece!
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