A modernização e a descentralização administrativa do Estado integram aquela que deverá ser uma das grandes marcas do governo de António Costa, sobretudo se cumprir o objetivo de durar toda a legislatura. A lógica do «menos Estado, melhor Estado», que a direita tanto gosta de proclamar sem querer passar da primeira metade da expressão, até faz sentido se isso significar o aprofundamento do Simplex e a criação de centros de competências, através dos quais os diversos ministérios utilizarão os mesmos especialistas para as áreas a eles respeitantes sem que os tenham incluídos na sua estrutura.
Um bom exemplo é o que se passa com os muitos milhares de euros gastos anualmente pelo Estado com os grandes consultórios de advocacia ou as empresas de consultoria, cujos serviços poderiam ser prestados por quadros do funcionalismo público com as competências necessárias para os executarem com idêntica eficiência.
Era este o tema ontem proposto por António Costa para o debate quinzenal com os deputados da Assembleia da República, mas a oposição da direita nem quis saber de tão relevante matéria, porque era do Orçamento de Estado para 2016, que pretendia falar, julgando nele encontrar matéria para disparar tiros certeiros contra o governo. O que não imaginava era a capacidade do primeiro-ministro para usar um intransponível escudo, que devolveu a ameaça à procedência.
O CDS foi rapidamente arrumado à box, com a nova terminologia para ele encontrada: neste novo ciclo, depois de já ter pretendido representar feirantes, velhinhos, contribuintes e sabe-se lá quem mais, converteu-se no «partido do automobilista», já que tanto o pareceu inquietar o imposto sobre os combustíveis.
Para despachar o PSD Carlos César lembraria a antecipação das receitas e o adiamento das despesas para 2016, os 260 milhões em défice no Serviço Nacional da Saúde, os dois milhões de pobres ou o escândalo da devolução da sobretaxa. Mas a estocada definitiva já fora dada anteriormente por António Costa, que não teve resposta, quando quis saber de Passos Coelho se prometera internamente a excecionalidade dos cortes nas reformas e nos vencimentos dos funcionários públicos, e os dera como definitivos lá fora?
Com o tom de quem dá um conselho de amigo o primeiro-ministro até seria sobranceiro ao aconselhar o antecessor a deixar de ser um prisioneiro do passado, porque é no presente que a discussão politica se justifica.
A ajudar à festa, e como resposta à expetativa do outro lado do hemiciclo em ver desagregada a convergência das esquerdas, quer Catarina Martins, quer Jerónimo de Sousa desmentiram-na não deixando de zurzir na falta de patriotismo demonstrado pela direita nestes últimos dias, quando tudo tem feito para amplificar o ruído proveniente de Bruxelas, quando é tempo de negociação entre o governo e a Comissão Europeia.
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