Não foi apenas no tempo da Inquisição, que o catolicismo europeu revelou uma barbárie semelhante à do Daesh. Basta recordar a cumplicidade da Igreja espanhola com os crimes franquistas para compreendermos que, tão só se lhes dê alguma guita, logo um setor ultramontano do catolicismo passa a ser tão fanático como os mais sinistros ditadores.
É isso mesmo que se está a comprovar na Polónia atual onde o governo inspirado por Jaroslaw Kaczynski, marioneta do clero ultraconservador, está a suscitar as apreensões da Comissão Europeia com legislação contrária aos princípios democráticos exigíveis para quem já entrou na União.
A reforma do Tribunal Constitucional, de modo a domesticá-lo de acordo com as pretensões do Partido Direito e Justiça (PiS), seguida agora, a 30/12, da lei sobre quem nomeia os diretores dos órgãos de comunicação visam mudar rapidamente as instituições, impedindo o regresso dos ideais democráticos.
Não se fazendo sem oposição - milhares de polacos têm desfilado nas ruas contra a deriva ditatorial do governo e do presidente! - a extrema-direita clerical procura acelerar a implementação da sua agenda, que sabe em vias de ser inviabilizada interna e externamente. E as sondagens mais recentes demonstram quão efémero foi o apoio maioritário desta solução governativa, cedo ferida na sua legitimidade pelo crescente clamor de quem se lhe opõe.
Neste início de ano, a Polónia está completamente fraturada entre a população urbana e cosmopolita e a dos espaços rurais e provincianos, onde a igreja consegue influenciar gente quase analfabeta e regida por códigos morais de um puritanismo execrável.
Martin Schulz, presidente do Parlamento Europeu, não poupa nas palavras e acusa estar em curso um golpe de Estado. E o próprio Walesa, ele próprio antigo comparsa de Kaczynki, na mesma solicitude para com os interesses clericais, já prometeu a insurreição nas ruas das grandes cidades.
Por isso coloca-se a possibilidade de negar os aprazados 82 mil milhões de apoios comunitários nos próximos cinco anos. O que dificultará seriamente a política demagógica do PiS, que tenta garantir votos através de apoios sociais a essa população mais inculta.
Após termos visto a Igreja espanhola a pretender de Rajoy a reversão da legislação socialista sobre a interrupção voluntária de gravidez ou o respeito pela igualdade de género - algo a que ele não se atreveu! - constatamos os efeitos de um militantismo proselitista, que põe em causa um dos maiores países da União Europeia.
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