Porque continuamos em «reflexão» quanto à nossa opção de voto para amanhã, prossigamos com a abordagem de mudanças em curso noutras latitudes. Escolhamos por exemplo o Irão, que já sabemos pelos filmes de Panahi, Farhadi ou Kiarostami, é muito diferente da imagem estereotipada facultada pelos telejornais.
É que, apesar de aí se manter a ditadura teocrática dos ayatollahs, a realidade tende a converter-se em algo muito diferente do que é dado como certo à partida.
Situemo-nos em Ispahan, que é tida como uma das cidades mais conservadoras do país, uma espécie de cavaquistão à escala iraniana e onde as raparigas casadoiras sempre foram convencidas a aceitar os noivos escolhidos pelas mães respetivas.
Mas isso foi até há pouco tempo, porque as coisas estão em profunda mudança. Agora bem podem os noivos dizerem e fazerem milhentas coisas para se tornarem aceitáveis ao julgamento da pretendida, que é ela a ter a última palavra. Até porque, fazendo fé nas muitas amigas, que entretanto passaram pela experiência e, depois, se divorciaram, os noivos costumam ser uma coisa antes do casamento, e tão-só este consumado logo voltam a ser aquilo que lhes ia na natureza.
Pode alguém que não é de esquerda fingir-se que o é, e logo depois de eleito? Manifestamente as raparigas de Ispahan descobriram à sua custa que as promessas de aceitação das suas carreiras académicas ou profissionais cessavam quando, já casadas, se viam a contas com os ciúmes injustificados dos conjugues.
Nos encontros , que diariamente enchem os salões principais dos dois grandes hotéis da cidade entre as cinco e as sete da tarde, as eleitoras dos candidatos ao casamento tornaram-se muito mais prudentes.
Que lhes interessa a suposta popularidade do pretendente na cidade, se é credível a ideia dele ora ter uma opinião sobre algo e logo outra contrária, quando isso se torna conveniente? Que lhes interessa as qualidades por ele reveladas a servir cafés atrás de um balcão ou a interessar-se por anciãs nos lares da terceira idade, se ele nunca lhes foi capaz de dizer verdadeiramente que futuro ambiciona para a família e o país?
As jovens de Ispahan têm bastantes razões para desconfiarem daquele que as mães antiquadas, lhes pretendiam impor. É que têm na mira outro candidato, menos popular nas ruas, mas com palavras bem mais inspiradoras para um futuro que desejam melhor.
É por isso que andam a acertar muito mais frequentemente na receita para a sua felicidade: quando deixaram de crer na inevitabilidade de aceitarem a escolha de quem lhe queria impingir o candidato dado como inevitavelmente eleito, elas olharam para o lado e viram outro bem mais capaz de corresponder ao seu desejo de acertarem em quem se mostra muito mais capaz de corresponder às suas aspirações.
Obviamente só mentes maliciosas podem pensar que tudo isto teve a ver com as eleições de amanhã!
Sem comentários:
Enviar um comentário