Em tempos eduardo dâmaso chegou a parecer-se com um jornalista estimável. Estava no «Público» e os seus textos liam-se, senão com entusiasmo, pelo menos com alguma atenção. A passagem para o «correio da manhã» fez emergir a componente Hyde, que se escondia por trás da aparência de um Jekyll respeitável. E, desde então, converteu-se num dos principais autores dos textos publicados no seu pasquim para denegrir José Sócrates. Por mero mercenarismo ou pelo mesmo tipo de deriva psicológica, que levou antigos maoístas a quererem ultrapassar pela direita todos quantos opinam no espaço público?
Hoje, seis meses depois de ter sido iniciada a infâmia judicial contra o antigo primeiro-ministro, o dâmaso publicou um texto em que dá largas à alegria de dar Sócrates como banalizado na sua condição de prisioneiro, esquecido dos jornais e das televisões, abandonado pelos amigos e despojado da classificação de preso político. Um texto que é elucidativo quanto às verdadeiras intenções de todos quantos se conjugaram para prejudicar José Sócrates: reduzi-lo à insignificância, ao anonimato.
O vómito do dâmaso pode agradar aos que querem esquecer o que essa governação significou em prol de um país mais desenvolvido e só obstado por uma crise financeira particularmente proveitosa para os que a provocaram. Ou para os crédulos que, tão-só começavam a duvidar das cobras e lagartos, que dele se disse e escreveu, e logo encontravam razões para manterem o preconceito nas mentiras mil vezes repetidas, com que os pasquins iam requentando a sua “narrativa”. Ora tal intenção esbarra na admiração que Sócrates suscita em milhares, que nele continuam a acreditar. Não só quanto à inocência dos atos de que o querem acusar, mas sobretudo no que diz respeito à Visão de futuro idealizada para o país.
Não admira por isso que, do reforço do Serviço Nacional de Saúde até à requalificação dos portugueses através de um ensino de qualidade e do programa Novas Oportunidades, o que o Partido Socialista irá propor em eleitores em outubro terá muito a ver com essa Visão. Que também o é no regresso do Simplex ou no apoio à investigação científica.
O procurador rosário teixeira e o juíz carlos alexandre continuam apostados em manter José Sócrates na prisão, tendo renovado por mais três meses a ignomínia. Mas poucas dúvidas devem ter os que julgam vir a ser pacífica a sua declaração de inocência, quando o novo governo já estiver em funções. Mesmo respeitando a separação de poderes entre os poderes executivo e judicial, os socialistas em geral, e os que mais se identificam com tudo quanto de mais enaltecedor teve a governação entre 2005 e 2011, não deixarão de reclamar uma condenação firme a quem prende para investigar, a quem espezinha o direito de qualquer arguido em ser considerado inocente até à demonstração da culpa e a quem, à falta de provas para demonstrar as suas melífluas teses, se utilizou promiscuamente de pasquins para as tornar credíveis pela iludida opinião pública.
Seis meses depois do início deste escândalo, só se poderá exigir que, desmontado das suas tortuosas aparências, se criem condições legislativas para que ele não se possa repetir.
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