“As coisas estão a melhorar!”, diz Custódia Gallego no início do 3º quadro que compõe a peça «Menos Emergências», atualmente em reposição no Teatro da Trindade e merecedora de ser vista ou revista por plateias bem cheias. Porque, se há um ano, quando a vi pela primeira vez, ela já remetia para o Portugal austeritário em que temos vivido, agora essa ilação ainda mais sentido faz.
Porquê? Bom, quando indagada da razão de dizer que “as coisas estão a melhorar”, a personagem responde : “a luz está mais brilhante!”. O que provoca o pasmo de quem formulara a pergunta. “A luz está mais brilhante?”. E, de facto, nós sabemos que, em princípio ela brilha quase sempre sem grandes flutuações.
Trata-se, pois, de um argumento fútil para querer acreditar que, mesmo sem razões para tal, as coisas estejam de facto a melhorar. E esse é o comportamento típico de passos coelho e da sua equipa por estes dias, quando louvam as suas supostas reformas, que tanto “sucesso” estariam a dar. Ou maria luís, que confirma estarem as coisas a melhorar a partir do estado do trânsito entre a sua casa e o ministério onde ainda manda.
Não! De facto as coisas não estão a melhorar, sejam elas o volume da dívida, o nº de desempregados, o nº de pessoas com empregos precários, o nº dos que partem do país por aqui não encontrarem soluções de sobrevivência, ou a generalidade dos indicadores relacionados com a economia, a saúde, a educação e com o funcionamento da administração pública. Até pelo contrário, eles confirmam que as coisas continuam a piorar. Embora nos próximos meses não haja dia algum em que ministros, deputados e opinadores da direita afiancem que “as coisas estão a melhorar”. Até à náusea e sem a ironia com que Custódia Gallego o diz numa peça, que reflete bem a nossa realidade...
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