Porque será que não se sente um clamor de indignação contra a pressa demonstrada pelo ainda governo em vender tudo quanto pode antes de concluir o seu mandato?
Desde a TAP aos transportes públicos de Lisboa e do Porto, do Oceanário a empresas da CP, sem esquecer os quadros de Miró ou o Novo Banco, tudo está à venda para que se reduza tanto quanto possível a economia pública.
Tendo interiorizado as lógicas neoliberais em como o “bom” Estado é aquele que quase se reduz ao mínimo, passos e Cª querem legar ao novo governo um conjunto de factos consumados, depois dificilmente reversíveis.
Por isso mesmo estou completamente de acordo com Hugo Mendes que, no «Económico», descreveu como predador o tipo de governação desta direita ainda no poder: “um governo que instrumentaliza todos os dias a ideia "acordo de regime" e que sempre se escondeu atrás do memorando da ‘troika' é, naturalmente, incapaz de revelar a humildade democrática suficiente para perceber que as empresas do Estado não são as "suas" empresas, que a alienação de ativos públicos estratégicos devia ser consensualizada o mais possível com outros partidos e ‘stakeholders', e que a exploração do conflito com os sindicatos para beneficio da sua agenda revela, na realidade, uma mistura de mesquinhez com desespero. Estes são os traços de um governo predador.”
A abulia com que a generalidade dos portugueses assiste a este estado das coisas só nos pode inquietar, porque racionalmente justificar-se-iam manifestações gigantescas para exigir a manutenção no setor público de tudo quanto ainda dele não foi expurgado...
Embora a esquerda europeia não se tenha sabido dissociar devidamente desta ideologia, assente na alforria plena às mitificadas «forças do mercado», já é tempo de, perante o desmascaramento de umas quantas mistificações, durante muitos anos vendidas como verdades absolutas (por exemplo a que pretendia ver maior competência nos privados para gerirem de forma mais eficiente as empresas anteriormente afetas ao setor público; ou aqueloutra segundo a qual os serviços outrora tidos como impreterivelmente situados no seio do Estado - energia, aeroportos, correios, etc - tornar-se-iam mais baratos tão só privatizados), tudo fazer para que regressem à esfera pública.
Não acredito que sejam viáveis nacionalizações como as concretizadas há quarenta anos, mas as participações públicas em grandes empresas como a Galp, a EDP, a REN, os CTT e outras, são fundamentais, não só para que o Estado volte a cobrar dividendos dos seus lucros, mas também para, coordenadamente, as influenciar no sentido mais favorável aos seus verdadeiros acionistas: os que são utilizadores dos seus produtos ou serviços.
Trata-se de uma guerra ideológica, que não se pode cingir ao nosso cantinho ocidental: perante uma União Europeia nada refém de tais ideias, será importante que os socialistas portugueses se coloquem na primeira linha do combate por um novo paradigma na definição das linhas mestras da economia do continente...
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