Duas recentes é inesperadas vitórias da direita a nível internacional - em Israel algumas semanas atrás e no Reino Unido anteontem - podem aparentar um novo fôlego das ideologias mais retrogradas e uma incapacidade da esquerda para aproveitar em seu favor as consequências dramáticas da governação anterior a nível social.
O ainda primeiro-ministro, que em tudo procura encontrar sinais animadores que desmintam a inevitabilidade da sua anunciada derrota, mandou lançar foguetes em nome das suas esperanças reforçadas. À medida que se aproxima o fim da legislatura torna-se cada vez mais delirante a tentação de passos coelho em querer forçar a realidade a ajustar-se aos seus sonhos.
Mas quanto engano se esconde por trás das aparências das manchetes jornalísticas! Em Israel, Netanyahu apresentou a proposta de um novo governo de extrema-direita com 61 deputados garantidos no Knesset, mas quase ninguém acredita na viabilidade de se tratar de experiência perdurável. É que, mesmo unidos num sentido ideológico profundamente reacionário, os vários partidos da coligação israelita assemelham-se a um saco de gatos. E a inevitabilidade de novas eleições coloca-se com tal acuidade quanto mais se agrava a crise económica e social num país, onde o racismo contra os judeus de origem etíope mais não é do que a ponta de um icebergue feito de graves tensões internas.
Quanto à vitória de David Cameron vale a pena considerar que ela foi conseguida com 1% de votação a mais do que obtivera nas eleições anteriores. Por isso só um tipo de escrutínio eleitoral passível de criar absurdas assimetrias de representatividade favoreceu uma maioria que, na realidade, apenas foi conseguida à custa de pouco mais de 36% de votos. Acresce, igualmente, o horror sentido por muitos ingleses a respeito da possibilidade de uma nova tentativa escocesa em conseguir a independência a curto prazo, situação que imaginam mais difícil com os conservadores no governo.
Ilusão fútil, porquanto os nacionalistas escoceses viram de tal forma reforçada a sua legitimidade, que Cameron irá enfrentá-los com menos força do que sentia até aqui. Tanto mais que surge um paradoxo difícil de gerir: se os ingleses querem maioritariamente sair da União Europeia, os escoceses pretendem nela entrar tão-só acedam à independência. O que torna ainda mais complicado o isolacionismo, que Cameron tanto favoreceu. Porque de que viverá a Inglaterra isolada de todo o resto da Europa e com metade da ilha rendida à lógica que terão entretanto vituperado?
Mas, se as eleições inglesas trouxeram uma boa notícia foi a da derrota do UKIP, que muitos julgaram possível vir a ser um dos vencedores de anteontem. Com apenas 1 deputado - mas 13% dos votos expressos! - o seu inenarrável líder, Farage, foi obrigado a demitir-se. Talvez seja a forma de perder força um tipo de nacionalismo serôdio , que explora os preconceitos para cumprir os seus desígnios mais do que suspeitos…
Conclui-se, pois, que incorre em erro grosseiro quem vê nestas notícias a demonstração de uma viragem à direita na política internacional, que está muito longe de se confirmar...
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