Em edição recente doa edição portuguesa do «Le Monde Diplomatique» surgiu um artigo de Renaud Lambert, que bem merece aqui uma abordagem.
Na síntese, que o apresenta, escreve-se: “O fracasso das suas políticas retirou aos partidários da austeridade o argumento do bom senso económico. De Berlim a Bruxelas, os governos e as instituições financeiras passaram a basear o seu evangelho na ética: a Grécia tem de pagar, é uma questão de princípio! A história mostra, contudo, que a moral não é o principal árbitro nos conflitos entre credores e devedores!”
Andemos dois séculos e meio para trás e verificamos que os reis franceses tinham um método infalível para se livrarem dos credores: limitavam-se a executá-los!
Outro exemplo histórico bastante elucidativo sobre a nem sempre obrigatoriedade dos devedores pagarem aos seus credores ocorreu com a guerra de 1898 pelos quais os EUA expulsaram Espanha de Cuba depois de ocorrer uma “estranha” explosão no “USS Maine”, quando estava atracado em Havana.
Os espanhóis bem procuraram cobrar a “dívida” contraída pela sua colónia, mas os norte-americanos deram-lhes uma resposta, que hoje se ajustaria perfeitamente ao que os gregos poderiam utilizar contra as instâncias internacionais: “não se iria exigir a uma população, que reembolsasse uma dívida contraída para a subjugar!”
Ora, se analisarmos o que se passa na Grécia, após a aplicação do programa de austeridade imposto pela troika, os indicadores são igualmente esclarecedores:
- um em cada dois jovens está no desemprego;
- 30% da população vive abaixo do limiar de pobreza;
- 40% dessa mesma população suportou o rigoroso inverno balcânico sem aceder a aquecimento;
Se olharmos para a dívida, também vale a pena verificarmos como se constituiu:
- uma parte foi gerada durante a ditadura dos coronéis (1967-1974), que se encarregaram de a quadruplicar;
- outra resultou da provocada pelo memorando que teve por objetivo transitar para a população grega os créditos detidos por instituições bancárias alemãs e francesas;
- outra teve a ver com a corrupção dos dirigentes políticos gregos envolvidos na compra de equipamentos alemães, muitos deles de qualidade ou utilização duvidosa.
- e não se pode esquecer o papel importante da Goldman Sachs, que lucrou significativamente com a criação de uma aparência de sustentabilidade da economia grega que, na realidade, se ia afundando cada vez mais.
Escreve Renaud Lambert: “os gregos dispõem de mil e uma justificações para recorrer ao direito internacional e alegar o fardo da dívida que auditada revelaria aspetos odiosos, ilegítimos e ilegais. Mas a capacidade de fazer ouvir a sua voz tem sobretudo a ver com a relação de forças entre as partes envolvidas.”
Ora, infelizmente, constata-se que essa relação continua a ser totalmente desequilibrada em seu desfavor.
Para vergonha indesculpável dos partidos socialistas e sociais-democratas, que andam a fazer de idiotas úteis às senhoras merkel e lagarde e aos senhores draghi e juncker em toda esta história...
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