quinta-feira, 7 de maio de 2015

A (i)legitimidade da dívida pública grega (1ª parte)

Em edição recente doa edição portuguesa do «Le Monde Diplomatique» surgiu um artigo de Renaud Lambert, que bem merece aqui uma abordagem.
Na síntese, que o apresenta, escreve-se: “O fracasso das suas políticas retirou aos partidários da austeridade o argumento do bom senso económico. De Berlim a Bruxelas, os governos e as instituições financeiras passaram a basear o seu evangelho na ética: a Grécia tem de pagar, é uma questão de princípio! A história mostra, contudo, que a moral não é o principal árbitro nos conflitos entre credores e devedores!”
Andemos dois séculos e meio para trás e verificamos que os reis franceses tinham um método infalível para se livrarem dos credores: limitavam-se a executá-los!
Outro exemplo histórico bastante elucidativo sobre a nem sempre obrigatoriedade dos devedores pagarem aos seus credores ocorreu com a guerra de 1898 pelos quais os EUA expulsaram Espanha de Cuba depois de ocorrer uma “estranha” explosão no “USS Maine”, quando estava atracado em Havana.
Os espanhóis bem procuraram cobrar a “dívida” contraída pela sua colónia, mas os norte-americanos deram-lhes uma resposta, que hoje se ajustaria perfeitamente ao que os gregos poderiam utilizar contra as instâncias internacionais: “não se iria exigir a uma população, que reembolsasse uma dívida contraída para a subjugar!”
Ora, se analisarmos o que se passa na Grécia, após a aplicação do programa de austeridade imposto pela troika, os indicadores são igualmente esclarecedores:
- um em cada dois jovens está no desemprego;
- 30% da população vive abaixo do limiar de pobreza;
- 40% dessa mesma população suportou o rigoroso inverno balcânico sem aceder a aquecimento;
Se olharmos para a dívida, também vale a pena verificarmos como se constituiu:
- uma parte foi gerada durante a ditadura dos coronéis (1967-1974), que se encarregaram de a quadruplicar;
- outra resultou da provocada pelo memorando que teve por objetivo transitar para a população grega os créditos detidos por instituições bancárias alemãs e francesas;
- outra teve a ver com a corrupção dos dirigentes políticos gregos envolvidos na compra de equipamentos alemães, muitos deles de qualidade ou utilização duvidosa.
- e não se pode esquecer o papel importante da Goldman Sachs, que lucrou significativamente com a criação de uma aparência de sustentabilidade da economia grega que, na realidade, se ia afundando cada vez mais.
Escreve Renaud Lambert: “os gregos dispõem de mil e uma justificações para recorrer ao direito internacional e alegar o fardo da dívida que auditada revelaria aspetos odiosos, ilegítimos e ilegais. Mas a capacidade de fazer ouvir a sua voz tem sobretudo a ver com a relação de forças entre as partes envolvidas.”
Ora, infelizmente, constata-se que essa relação continua a ser totalmente desequilibrada em seu desfavor.
Para vergonha indesculpável dos partidos socialistas e sociais-democratas, que andam a fazer de idiotas úteis às senhoras merkel e lagarde e aos senhores draghi e juncker em toda esta história...


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