Pedro Adão e Silva alerta-nos para mais uma perigosa tentativa da direita em convencer-nos da necessidade de virmos a cortar pensões e salários na função pública, sob a alegada treta - que catroga disse na semana passada - de não se ter cortado suficientemente na despesa do Estado.
Essa ideia é grosseiramente falsa como o demonstrou Hugo Mendes num dos capítulos do livro «Governar com a troika: políticas públicas em tempo de austeridade», agora lançado com a chancela do ISCTE.
Resume Pedro Adão e Silva na crónica publicada no «Expresso» deste fim-de-semana: “durante o programa de assistência, a consolidação foi feita através de uma diminuição
da despesa primária de €7,4 mil milhões e de um aumento de €4,5 mil milhões na receita. Sendo assim, a redução da despesa explica 2/3 da consolidação e o aumento da receita 1/3”.
da despesa primária de €7,4 mil milhões e de um aumento de €4,5 mil milhões na receita. Sendo assim, a redução da despesa explica 2/3 da consolidação e o aumento da receita 1/3”.
Se é verdade que o aumento de impostos foi “brutal”, ainda mais profundo foi o corte verificado nas despesas do Estado, com consequências gravosas no agravamento do acesso dos cidadãos à saúde, à educação ou até à mera resolução de questões administrativas.
O porta-voz da falsa ideia foi muito hábil ao considerar que o PSD devia desculpas aos portugueses por não ter cortado tanto na despesa quanto deveria. Aparentando um distanciamento crítico em relação ao governo, catroga prepara o terreno para a mensagem, que mais convém a quem ainda procura levar mais além o seu projeto ideológico neoliberal.
É que, demonstrada a fraude da tese em como existiriam muitos “consumos intermédios” para eliminar, catroga sabe muito bem aonde só é possível avançar com novos cortes: precisamente aqueles que têm a ver com salários e pensões.
Assim se vai procurando criar nos portugueses a ideia da inevitabilidade dessa “solução”. Mas para quem ganha vencimentos obscenos na EDP como com ele sucede, convenhamos que catroga não tem muito com que se preocupar quando se trata de ver funcionários públicos e reformados desapossados de uma parte dos rendimentos a que têm direito.
Pedro Adão e Silva conclui a crónica da melhor maneira: se se trata de pedir desculpa aos portugueses, mais valeria que passos & Cª começassem por pedir desculpa “às famílias dos 400 mil portugueses que emigraram e aos 400 mil que viram os seus empregos destruídos; às 65 mil crianças que deixaram de ter inglês no 1º ciclo; aos milhões de idoso que tiveram as suas pensões cortadas. É que, em importante medida, tudo isto foi consequência de uma estratégia de ‘ir além da troika’, assente na crença mágica de que um corte abrupto na despesa teria um efeito salvífico.”
Perante a catadupa de narrativas emitidas pela direita para melhor iludir os eleitores, cabe à esquerda desmontá-las e denunciar o que elas pretendem alcançar…
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