Como socialista sempre entendi que quem supostamente estava à esquerda devia ser visto como adversário político passível de se vir a converter em aliado, ao contrário de quem à direita se posiciona. Esse é o meu verdadeiro inimigo.
Posso lamentar que os comunistas se aliem mais facilmente à direita do que queiram convergir com o Partido Socialista, como Bernardino Soares é lapidar exemplo em Loures. Posso lamentar que comunistas e bloquistas tenham servido de idiotas úteis à direita para lhe estenderem a passadeira por onde ela passou facilmente após a morte do PEC IV. Posso lamentar que o MRPP, por onde cirandei na juventude, tenha dado sobejas razões para crer até que ponto o seu dogmatismo não o aproximaria perigosamente do polo contrário.
Mas também acredito que quem genuinamente apoia e milita nesses partidos coloca como objetivo uma sociedade mais justa e igualitária. O que não é propriamente o que se passa com quem milita ou apoia o PSD ou o CDS, onde se tem por objetivo a preservação de um tipo de sociedade desigual e injusta.
Vem tudo isto a propósito da admiração confessa, que tenho por Mariana Mortágua. Trata-se de uma miúda mais nova do que a minha própria filha, mas com uma argúcia e uma solidez de argumentos justificativos do destaque que já conquistou na própria imprensa internacional enquanto durou a Comissão Parlamentar sobre a bancarrota do BES.
Da interessante entrevista, que concedeu a Aurélio Gomes no canal Q, retenho três ideias com as quais estou particularmente de acordo.
A primeira tem a ver com o problema suscitado com a forma como a economia é estudada nas Universidades, quer em Portugal, quer no estrangeiro. Criou-se um tal «pensamento único», assente apenas nos pressupostos estabelecidos para o sistema capitalista, que outras perspetivas, mormente a marxista, não conseguem aí encontrar lugar.
O resultado é que, de governantes a jornalistas da imprensa económica, impere a ideia de que não existem alternativas a estratégias governativas, que não passem por modelos rígidos vertidos em folhas de excel. E, no entanto, quanto é evidente para muitos, que os conceitos fundamentais do marxismo continuam a fazer plenamente sentido numa sociedade, que dá mostras de já não conseguir crescimento e sustentabilidade com essas receitas do pensamento único já comprovadamente esgotadas.
Noutro passo da entrevista des-diaboliza-se ricardo salgado. É que, para a direita, faz muito jeito apontar o dedo a um vilão capaz de congregar em si todos os males do sistema, mas isso é esquecer que o ex-administrador do BES mais não era do que uma peça, mesmo que importante, desse sistema capitalista e é este último que está em causa. Porque, derrubado um ricardo salgado, milhentos outros florirão se não forem travados nos seus propósitos.
No mesmo sentido, o de olhar para a árvore perdendo de vista toda a floresta, vai o terceiro momento, que escolho da entrevista: a condenação do discurso primário contra os políticos, nomeadamente quando se lhes critica os vencimentos e as regalias que usufruem. É que, enquanto se fala do medíocre ordenado de um deputado, esquecem-se as remunerações de um mexia na EDP ou os bónus obscenos dos banqueiros ou dos zeinal bavas, que são quem manobra os cordelinhos do sistema.
Concluído o programa só tenho pena que a entrevistada não esteja no Partido Socialista. É que está a fazer lá bastante falta!
Sem comentários:
Enviar um comentário