Esta será a semana em que teremos em Espanha o teste a algumas hipóteses, que vêm sendo ensaiadas nos últimos meses: emergirão novas forças políticas a ocupar o espaço das tradicionais, ou estas conseguirão superar as previsões, que as davam como definitivamente condenadas? Será possível formar governos fortes assentes em agendas ideológicas bem precisas ou tornar-se-ão imperativas as convergências entre partidos com visões diferentes, mas condenados a ouvirem-se una aos outros e negociarem entre si? E continuarão a descredibilizar-se os institutos de sondagens ou reconquistarão alguma fiabilidade por conta de metodologias mais acertadas?
Na segunda-feira já existirão respostas, que poderão dar origem a novas teses de acordo com os interesses imediatos de quem as emite. E isso foi notório nas recentes eleições inglesas: apesar de cameron ter conquistado os votos de pouco mais de um terço dos que enfiaram votos nas urnas e distar dos trabalhistas apenas cinco pontos percentuais, a direita quis apresenta-lo como um vitorioso avassalador. Porque, internamente, pretendia colar cameron a passos coelho e anunciar o crepúsculo das ideias de esquerda do Partido Trabalhista, como que num aviso ao Partido Socialista para que não vá longe de mais na inflexão aos quatro anos de austeridade. O sinistro blair atirou os bitaites expectáveis em função da missão retrógrada, que quis cumprir, e os jornais endeusaram um dos seus mais afoitos pupilos, que promete “recentrar” a esquerda britânica.
Em poucas semanas teremos resultados eleitorais em dois dos mais importantes países da União Europeia para nos servirem de guias e reflexão sobre o que poderá ser o nosso futuro. Mas eles poderão criar leituras equívocas por parecerem apontar o exato contrário do que a maioria dos opinadores defende. É que as sociedades tendem a imitar os comportamentos da Natureza, onde por exemplo os rios, antes de secarem, apresentam um fluxo ilusório quanto ao que a seguir neles acontecerá. Ou na biologia humana onde é tão frequente um moribundo ter aparentes melhorias em vésperas do definitivo claudicar do seu organismo.
Em Espanha, como na Grécia, e até mesmo com os movimentos de extrema-direita em Inglaterra ou em França, os eleitorados tendem a responder assertivamente às propostas políticas, que façam das pessoas e das respostas (mesmo que erradas) às suas inquietações o eixo central dos seus discursos.
O efémero sucesso do partido conservador britânico esconde o fracasso, que se lhe anuncia ao mostrar-se incapaz de responder às deceções dos que governa e poucos ignoram em Londres a progressiva expulsão dos menos abonados para as periferias não só devido ao aumento do custo de vida na cidade como na inacessibilidade de ali encontrar alojamento digno.
Para muitos britânicos a questão não tardará a colocar-se assim: mesmo que haja um desemprego pouco significativo, de que vale ter trabalho, se ele não assegura o acesso a quanto significa uma qualidade de vida minimamente decente?
Seja na Grã-Bretanha, na Grécia, em Espanha ou em Portugal, a direita há muito que se deixou de preocupar com as pessoas. Por isso não tardará que as pessoas lhes dediquem o desprezo que merece.
O que abre margem para a responsabilidade das esquerdas em conseguirem, elas sim, convergirem em objetivos comuns, e darem respostas credíveis capazes de levarem os cidadãos a apostarem nas suas propostas transformadoras da triste realidade em que (sobre)vivem...
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