Não é que não o soubéssemos, mas a tese passa a ter a chancela de estudo académico: o memorando de entendimento (MdE) que Portugal assinou com a troika foi uma “espécie de alavanca” que, segundo Pedro Adão e Silva, permitiu ao Governo “implementar políticas que de outra forma não teria sido capaz porque encontraria pontos de veto políticos e sociais (através dos partidos, Presidente e parceiros sociais) e institucionais (como o Tribunal Constitucional)”.
No livro «Governar com a Troika: políticas públicas em tempo de austeridade» ficam bem documentadas as razões, que levaram muitos políticos e jornalistas de direita a conjugarem acções para condenarem o PEC IV e trazerem a troika até nós: mais do que salvar o país de uma suposta bancarrota, pretendia-se aproveitar uma oportunidade única para impor a agenda neoliberal de redução do Estado ao mínimo com a privatização de todas as empresas ainda dele dependentes, a eliminação da maior parte dos direitos e garantias dos trabalhadores nos seus locais de trabalho e a eliminação do máximo de apoios sociais, que ainda persistiam das políticas progressistas da Revolução dos Cravos.
Agora será muito difícil avançar dois passos, quando o recuo foi de bem mais do que um. Para regressarmos às condições de equilíbrio social perdidas em 2011, muito deverão porfiar os próximos governos por muito que seja a esquerda a comandá-los...
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