Já não entrava num Congresso do Partido Socialista desde o de Matosinhos de 2011, quando José Sócrates foi confirmado como secretário-geral para enfrentar a direita nas legislativas seguintes, aquelas que, infelizmente, se saldariam pela vitória de passos coelho.
O comportamento, então desprezível, de António José Seguro a fazer-se lembrado a todos e mais alguns pelos corredores da Exponor depois de quase nunca ter apoiado o governo socialista e até o haver desajudado aquando das manifestações de professores mobilizados pelo inefável nogueira, decidiu-me a só voltar à militância ativa quando tivesse um outro secretário-geral em quem eu confiasse. Daí a minha deslocação ao pavilhão da FIL no Parque das Nações, porque António Costa merece-me uma confiança quase absoluta, e darei o modesto contributo ao meu alcance para que venha a ter um enorme sucesso no projeto político, que designou por «Agenda para a Década».
O que encontrei foi um ambiente pejado de determinação e de unidade para conseguir o que mais interessa aos portugueses: atirar o governo de passos coelho para as páginas dos futuros livros de História onde ganhará a má reputação de quase ter destruído o país. Se ele pretendia ganhar um lugar nesses manuais tê-lo-á conseguido, porque deixará de herança uma terra quase queimada, onde muito trabalho deverá ser investido para que volte a tornar-se fecunda.
Houve excelentes discursos a começar pelo do novo secretário-geral a abrir o Congresso e depois com Manuel Alegre a impor que não ocorra nenhuma coligação possível com esta direita, culminando antes do jantar e da exibição dos dois grupos de cante alentejano, com o de Sampaio da Nóvoa a perfilar-se como um potencial presidenciável se Guterres aspirar merecidamente ao cargo de secretário-geral da ONU.
As televisões terão apostado sobretudo na possibilidade de haver quem chamasse José Sócrates à colação, mas todos os socialistas, quer os que subiram ao palanque, quer os entrevistados cá fora seguiram à risca o pedido do antigo primeiro-ministro: a prioridade é mudar decisivamente a vida dos portugueses, deixando-o a cuidar da sua defesa com a firmeza e a coragem, que se lhe reconhecem.
A nível dos comentadores também foi dado como adquirido que os próximos meses serão de grandes dificuldades para o Partido Socialista por causa dessa realidade judicial, sobretudo se ela for sendo complementada com aquelas «notícias» sopradas para os pasquins do costume pela acusação.
Veremos até que ponto se enganam, o que já poderá ser comprovado com as próximas sondagens, aguardadas em grande expectativa pelos socialistas e pela direita. Se o PS aguentar o efeito do terramoto causado pela decisão de carlos alexandre e mantiver uma percentagem próxima da maioria absoluta, teremos a direita a desesperar e deixar a reação sonsa de passos coelho para falar de Sócrates até à náusea. O que poderá resultar no tipo de situação em que o feitiço se possa virar contra o feiticeiro…
Se, pelo contrário, acontecer um tombo significativo nas sondagens, maior desafio se colocará a António Costa para recuperar o terreno momentaneamente perdido no favor dos eleitores. Mas conciliando a péssima governação da direita - que não dá qualquer sinal de ter aprendido com os seus erros - com a enorme capacidade política do novo secretário-geral para superar obstáculos políticos que eram tidos como intransponíveis, a maioria absoluta continuará a estar perfeitamente ao seu alcance. Para benefício da grande maioria dos portugueses, que já sofreram demais e anseiam por ver fundamentadas as razões de recuperação das suas aspirações a uma vida melhor...
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