Na sempre excelente edição portuguesa do «Le Monde Diplomatique», Serge Halimi espanta-se com a acrimónia com que, por toda a Europa, foi anunciada a vitória de Evo Morales nas eleições presidenciais da Bolívia.
De facto quantos de nós puderam ouvir nas nossas televisões, ou ler nos nossos jornais, que presidente boliviano foi reeleito para um terceiro mandato com 61% dos votos contabilizados?
Quantos ficaram a saber que a explicação para tal sucesso terá a ver com a redução da pobreza em 25%, o aumento do salário mínimo em 87%, a redução da idade da reforma e um crescimento do PIB superior a 5% ao ano desde 2006?
Para uma imprensa que, ainda recentemente torceu pela derrota de Dilma no Brasil ou se apressa a dar notícias alarmistas sobre a criminalidade na Venezuela eximindo-se de as referir relativamente ao México, está na sua “cultura” a tentação para calar todas as informações positivas sobre as experiências governativas mais à esquerda em curso na América Latina.
Quem ainda tem dúvidas sobre a (falta de) objetividade de todos os canais informativos, que nos são servidos, supostamente com a intenção de nos manter atualizados sobre o mundo onde vivemos?
No mesmo jornal a diretora, Sandra Monteiro, debruça-se sobre o Orçamento para 2015, não tendo dúvidas quanto ao que ele preconiza: “austeridade sobre austeridade, empobrecimento sobre empobrecimento, desespero sobre desespero”.
Se os dados mais recentes do Eurostat apontavam para 2,88 milhões de portugueses em risco de pobreza ou de exclusão social em 2013, o novo Orçamento só tenderá a agravar a situação com os cortes previstos nas prestações sociais destinadas aos que menos já tinham para procurar sobreviver.
Sandra Monteiro indigna-se, pois, com uma realidade, que exige a renegociação da dívida e o virar de página a esta fase neoliberal. È que “não podemos tolerar a pobreza, ainda para mais absolutamente evitável, a que estão a ser sujeitos milhões de seres humanos, nesta e nas gerações futuras.”
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