Enquanto passos coelho anda a dar a volta a Portugal para «explicar» aos militantes laranja o orçamento para 2015 e, sobretudo, para aparecer diariamente à hora dos telejornais com as larachas sobre Sócrates ou sobre António Costa a que só ele parece achar graça, os parceiros da troika vão-lhe tirando o tapete e desmascarando o cenário idílico sobre que baseia todo o seu discurso.
Primeiro foi Bruxelas a tirar-lhe as ilusões: não acreditou nos benefícios do combate à fraude fiscal, nem no crescimento previsto e situou o défice do próximo ano em 3,3%. Agora é o FMI a mostrar-se ainda ser mais cauteloso nas previsões, apontando para um défice de 3,4%.
Quer isto dizer que um dos trunfos sobre que basearia a campanha eleitoral do próximo ano: o de, pela primeira vez desde que o governo de José Sócrates o conseguiu em 2007 com 2,6%, concluir o mandato a cumprir um dos requisitos impostos pelos Tratados da União Europeia.
A exemplo dessas tais larachas, que não conseguem acordar as suas adormecidas audiências internas, as previsões de passos coelho só são críveis para ele próprio.
Mas dos lados do FMI o dia não trouxe apenas essa má notícia para passos coelho: o Organismo de Avaliação Independente criado pelo próprio FMI para analisar a bondade das orientações da organização acaba de concluir que “a conjugação de políticas recomendadas (pelo FMI em 2010 e 2011) não foi apropriada já que a expansão monetária é relativamente ineficaz para impulsionar a procura privada na sequência de uma crise financeira”.
O mesmo organismo considera que “a política orçamental teria sido um caminho mais eficaz para estimular a procura e poderia ter permitido uma política monetária menos expansionista”.
Esta conclusão emanada do interior de um dos principais defensores das políticas de austeridade ainda mais vai isolando os que a perfilham dentro do seu minguado labirinto sem saída.
Compreende-se, pois, que António Costa seja prudente e não ceda à tentação de responder de imediato a quem lhe pede as soluções para sair da presente crise: é que, nos próximos meses a relação de forças entre os pró-austeridade e os que contestam essa opção tende a desequilibrar-se de forma tão abrupta a favor dos segundos, que o contexto em que o próximo governo irá atuar deverá ser bastante diferente. O mais estranho virá a ser a transformação de passos coelho e de maria luís albuquerque em neokeynesianos entusiásticos depois de terem perfilhado sem vergonha os aspetos mais danosos das teses de hayek.
Outra das notícias, que aconselha prudência a António Costa é o sucesso do Podemos no nosso vizinho ibérico. Não falta quem por aí ande a anunciar a morte dos partidos tradicionais em favor desse tipo de alternativas de cunho mais ou menos populista.
A História já nos ensinou a rapidez com que estas forças surgem do nada como cometas a brilharem intensamente durante uns meses para logo desaparecerem para nenhures. Elas configuram um desencanto com os aspetos realmente criticáveis nos partidos tradicionais - a corrupção em todas as suas formas, das mais brandas às mais escandalosas - a que António Costa deverá dar uma resposta eficiente sob a forma de melhores mecanismos de transparência nas tomadas de decisão e de regulação dos agentes intervenientes nos mercados.
Mais do que foguetório para embalar falsos moralistas, exige-se legislação capaz de assegurar uma melhor governação.
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