França, 1918: o canadiano George Price é o último soldado morto na Grande Guerra, que acabara de envolver oitenta milhões de pessoas nos quatro anos anteriores, das quais 10 milhões tinham morrido e 20 milhões sofrido ferimentos.
Que loucura se terá apossado de tantos povos e respetivos governantes para causarem um morticínio de tal dimensão? Ainda hoje muitos se interrogam como foi possível suscitar tanta fúria.
E, no entanto, quando o verão de 1914 substituiu a primavera, vivia-se numa aparente pacatez nas principais capitais europeias. Stefan Zweig recordou que era um tempo de progresso e de cultura. A Europa nunca fora tão rica, tão bonita, tão confiante num futuro melhor. Mesmo que não para todos: os operários trabalhavam o dobro das horas atuais e por metade do salário.
Jaurés, o político socialista francês, tinha consciência de como os patrões da indústria estavam ansiosos por esmagar as crescentes reivindicações populares, vendo nisso um perigo merecedor de atenção, porque uma guerra provocada pela manipulação dos sentimentos nacionalistas poderia servir-lhes de ensejo propício para tal ambição.
Guilherme II, que era o imperador alemão, mandara construir uma marinha de guerra tão poderosa quanto a da Inglaterra, que ainda se vangloriava de dominar os mares. Mas, por mor das dúvidas, o governo inglês tratara de criar uma coligação com a Rússia e com a França – a Tripla Entente - destinada a refrear as ambições germânicas.
O único aliado de Guilherme II era o decadente Império Austro-húngaro, que estava a estilhaçar-se por todo o lado perante as aspirações independentistas de muitos dos seus povos. É em Sarajevo que tudo muda dando razão à lógica de bastar uma faúlha para incendiar toda uma pradaria.
Em 28 de junho o arquiduque Francisco Fernando e a esposa Sofia escapam a uma primeira tentativa de assassinato, mas não conseguem sobreviver à segunda que, no mesmo dia, é protagonizada por Gavrilo Princip, um nacionalista sérvio de apenas 19 anos.
Embora o arquiduque assassinado fosse o príncipe herdeiro do império austro-húngaro, em Londres as preocupações estavam viradas para as batalhas com os independentistas irlandeses. Mas quando Francisco Fernando e Sofia são sepultados - em 3 de julho - o imperador austríaco é convencido pelos seus generais a atacar a Sérvia, que firmara uma aliança com a Rússia.
No império germânico, Guilherme II considera um sacrilégio a morte do arquiduque por demonstrar que há quem ponha em causa a essência divina da realeza. Por isso ele é o mais entusiástico defensor de uma guerra de vingança, acreditando que não demorará mais do que uma semana tendo em conta a falta de preparação da Rússia e da França para se lhe opor.
A 20 de julho, o presidente Poincaré visita a Rússia para confirmar o apoio do governo czarista no caso da guerra extravasar a Sérvia, onde em principio ela parece condenada a verificar-se.
Rejeitando o ultimato emitido pelo governo de Viena, a Sérvia prepara-se para o pior. A 28 de julho os canhões austríacos disparam contra Belgrado, motivando os exércitos russos a passar a fronteira com a Áustria.
A 30 de julho já todos os contentores dos dois lados do conflito fizeram a mobilização geral. É generalizado o entusiasmo por uma guerra ainda vista como uma palpitante aventura. Ninguém imaginava o inferno, que se estava a iniciar...
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