No final da semana passada, quando o presidente Erdogan ainda não tinha autorizado a passagem de peshmergas iraquianos pelo território turco para chegarem a Kobané pela fronteira com a Síria, a derrota parecia inevitável. O próprio Erdogan apostava nessa possibilidade, que ia ao encontro da ambição de, ao mesmo tempo, manter a opressão sobre a minoria curda e o seu partido mais representativo, o PKK, e derrubar Bashar al Assad.
Felizmente que a situação nos dois países vizinhos levou a comunidade internacional, e muito particularmente os EUA e a União Europeia, a deixarem de apostar na prioridade de derrubar o presidente sírio para assumirem a importância de aniquilarem os jiadistas do suposto Estado Islâmico. Ao mesmo tempo a contas com a revolta da população turca, sobretudo em Diyarbakir, indignada com o genocídio iminente a poucos quilómetros da fronteira, e com as pressões dos aliados da NATO, Erdogan teve de rever a sua estratégia de curto prazo.
Mesmo ainda não se conhecendo grandes novidades sobre como estarão a decorrer os combates em Kobané é crível que os fanáticos islamistas venham ali a conhecer a sua Estalinegrado. Com determinação e o indispensável apoio dos bombardeamentos aéreos sobre o inimigo, os curdos sírios e iraquianos poderão conquistar uma importante vitória militar e colocarem-se em condições para serem reconhecidos como Estado independente, mesmo contra a vontade de Erdogan, que bem merece ver enfim empalidecida a sua estrelinha afortunada.
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Na mesma região do globo outro povo - o palestiniano - também anda a conhecer avanços nas suas aspirações ao ver reconhecido o seu Estado pela Suécia.
Muito embora ofendido por Benjamin Netanyahu - que equiparou a capacidade de análise sueca dos acontecimentos políticos do Médio Oriente com a montagem de kits do Ikea - o governo de Estocolmo já compreendeu aquilo que a generalidade dos países ocidentais quis ignorar: a demora em reconhecer a legitimidade palestiniana em ter o seu próprio Estado só pode enfraquecer a laica Fatah em proveito do fanatismo islamista. Não esqueçamos que o Hamas conseguiu a sua implantação em Gaza graças à política de Israel de dividir para reinar.
Sempre que os EUA e os seus aliados trataram de derrubar os ditadores mais laicos do Médio Oriente e do Norte de África o resultado foi sempre calamitoso com a criação dos talibãs e da Al Qaeda no Afeganistão e o autodenominado Estado Islâmico no Iraque e na Síria.
Já começa, pois, a ser altura de Telavive sentir-se menos apoiada na forma criminosa como tem procurado manter o que a comunidade internacional sempre lhe negou: a anexação dos territórios, que conquistou a partir de 1967.
Muito embora os ultraortodoxos nunca o possam aceitar, a generalidade dos israelitas deveriam sentir-se muito mais seguros com a realidade de dois Estados laicos capazes de viverem em paz lado a lado e com ambos a mostrarem-se eficazes no controlo dos respetivos fanáticos religiosos. Tanto mais que a mais recente agressão a Gaza só conduziu a morte e destruição, sem qualquer sucesso diplomático. Com o “bónus” de darem ensejo ao lançamento da Terceira Intifada…
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Uma semana depois a vitória de Dilma Rousseff já calou os que andavam em pulgas por ver infletida a viragem à esquerda da generalidade dos países latino-americanos. Nas praças bolsistas e nos arranha-céus, onde estão os escritórios dos especuladores financeiros, já havia quem se babasse com o quanto ganhariam com as privatizações anunciadas por Aécio.
Lá estragaram o negócio a uns quantos gananciosos, comparados com os quais os muito propalados casos de corrupção de gente ligada ao PT são coisa de meninos de coro!
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