quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Uns sacanas sem lei

As recentes eleições para o Senado e para a Câmara dos Representantes dos EUA significaram uma derrota significativa para Barack Obama, que se vê obrigado a concluir o mandato com toda a sua ação política tolhida pela oposição republicana. Aparentemente temos um avanço da extrema-direita norte-americana, com particular destaque para os filiados no sinistro Tea Party.
Mas será mesmo assim? Um exemplo interessante é o do que se passou no Kansas onde Sam Brownback, conseguiu renovar o seu mandato com apenas 3,9% de avanço sobre o seu competidor democrata, Paul Davis.
Ora, Brownback conseguira, em relação aos seus competidores democratas, mais 33% em 1998, 42% em 2004 e 31% em 2010.
O que levou a um tombo tal, que se chegou a pensar na possibilidade de ver os Democratas conquistarem um dos mais seguros feudos republicanos?
Aconteceu que, em 2010, Brownback foi também eleito governador do Kansas e decidiu aí concretizar aquilo que crismou como «Experiência Brownback», feita de descida de impostos, despedimento de funcionários públicos, redução drástica dos apoios sociais e privatização da educação pública.
Tratava-se do sonho dos republicanos: o próprio Mitch McDonnell, agora líder do Senado, dissera que se tratava das reformas idealizadas pelos Republicanos e ainda impossíveis de fazer aprovar em Washington.
O resultado foi afinal calamitoso: um Estado em que o orçamento contava com um balanço positivo entre receitas e despesas, quase faliu já chegando a um buraco de 333 milhões de dólares … que levaram Brownback a avançar com novos cortes na despesa.
A situação tornou-se tão grave, que centenas de republicanos apelaram ao voto em Paul Davies nesta eleição para o Senado, explicando-se assim essa quase viragem favorável aos democratas.
Mas o que foi a «Experiência Brownback», com as consequências agora constatadas, pode ser vista como mais uma das muitas ensaiadas pelos irmãos Koch para mudarem a América à luz da sua ideologia ultraconservadora.
Há quem diga que, comparada com essa ideologia, Ronald Reagan passaria, hoje, como um amável centrista.
Sendo dos empresários mais ricos dos EUA, os Koch acumularam fortuna nos setores petrolífero, químico e na celulose. E investem centenas de milhões de euros em políticos dispostos a implementarem a sua receita neoliberal. Além de Brownback eles têm apadrinhado políticas semelhantes no Maine ou as que Scott Walter tem empreendido no Wisconsin contra os sindicatos.
Mas esta visão ultramontana de Charles e de David Koch tem fundas raízes no passado: o pai dos dois irmãos, Fred Koch, foi fundador de um movimento racista dos inícios dos anos 60, que via em Eisenhower um agente da conspiração comunista. Foi desse controverso progenitor, que os Koch herdaram a ideia de um Estado reduzido à mínima expressão possível, que nunca se intrometa nos seus negócios. Por exemplo, que nunca venha limitar-lhes os lucros nos seus principais setores de atividade em nome de medidas contra o aquecimento global.  Ou que exija salários mínimos e coloque entraves à “mobilidade” no trabalho.
Os Koch representam, pois, uma América híper-reacionária onde o abismo entre os muito ricos e o resto da população só tende a agravar-se.
Os resultados da “Experiência Brownback” tendem a limitar-lhes a eficácia dos investimentos em políticos dispostos a protagonizarem os seus ditames. E a sua idade avançada também já prefigura um crepúsculo inglório para a sua visão do mundo.
Embora o momento seja de vitória, os republicanos dificilmente conseguirão repetir daqui a dois anos os seus atuais sucessos...

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