Propositadamente silenciei-me sobre a efeméride relativa à queda do muro de Berlim, que pode muito bem ter sido comemorada por muitos alemães (embora duvide que os 13 milhões à beira da pobreza o tenham feito!), e o foi decerto por muito melhores razões pelos grandes investidores internacionais e pelos donos das multinacionais, que conseguiram com esse acontecimento aquilo que pretendiam: enriquecer de forma absolutamente obscena.
De facto, foi a queda do Muro que propiciou a assinatura dos chamados Consensos de Washington (ainda em 1989) e o de Bruxelas (no ano seguinte), que definiu as receitas a aplicar ao longo deste quarto de século um pouco por todo o mundo: corte da despesa pública, reforma fiscal para favorecer os mais ricos, liberalização do comércio internacional, liberalização da entrada de investimentos diretos estrangeiros, privatizações ou desregulamentação bancária.
Não nos iludamos quanto ao então ocorrido: a situação económica da Alemanha de Leste e de todos os países do Bloco Soviético era calamitosa e tornava inevitável o que se verificou. Mas, libertos do papão comunista, os defensores do capitalismo neoliberal ficaram com as mãos livres para impor a lógica de não existir outra alternativa a esta forma de governar. Conseguindo até neutralizar os socialistas e os sociais-democratas que estariam em condições de oferecer soluções mais equilibradas para o contexto de então. Quem então se atrevesse a fazê-lo levava com o estigma do que significara o «socialismo» ou o «comunismo» do outro lado da Cortina de Ferro e arriscava-se a excomunhão pública.
Vinte cinco anos depois bem podem Merkel e os seus admiradores comemorar o passado, porque nem imaginam como o futuro os ameaça: é que os motivos, que levavam milhares de leste-alemães a quererem pular o muro de Berlim são os mesmos que justificam que muitos mais europeus estejam hoje ansiosos por quebrar esse outro muro aparentemente invisível, que coarta as suas esperanças e se chama neoliberalismo. E, a exemplo do sucedido há 25 anos, pode apenas ocorrer uma centelha para incendiar de vez o precário equilíbrio em que ainda se aguentam os governos, que dele se fazem executores...
Sem comentários:
Enviar um comentário