Uma das estratégias da direita para desvalorizar a candidatura de António Costa a primeiro-ministro consiste em criticar-lhe a falta de ideias concretas para resolver alguns dos problemas de curto prazo, que se colocam à economia portuguesa: como continuaremos a pagar a dívida? Como vamos financiar o nosso crescimento? Como continuaremos a garantir acesso ao financiamento do BCE e de outros investidores internacionais se não cumprirmos escrupulosamente o Tratado Orçamental?
Recorrendo a uma «paciência evangélica» (seja lá o que isso for!) António Costa compromete-se, como secretário-geral do PS, em cumprir um calendário, que fixa a apresentação de um programa de governo para meados da primavera.
Compreende-se que assim seja: por um lado nenhum dos partidos concorrentes às próximas legislativas já apresentou as suas propostas concretas; por outro lado ninguém estará em condições de o fazer tendo em conta que a realidade muda com tanta rapidez, que ninguém no seu juízo perfeito poderá adivinhar como estarão os indicadores económicos e sociais nessa altura, só se podendo prever com relativa certeza, que serão muito mais gravosos do que atualmente, tendo em conta o orçamento de Estado para 2015. Mas, sobretudo, António Costa sabe muito bem o tipo de reação, que qualquer medida concreta agora apresentada, provocaria nesses mesmos comentadores da direita: tratariam de tal forma de lhes deformar o sentido, que toda a sua bondade seria transformada numa plêiade de potenciais malfeitorias. Veja-se o exemplo da entrevista de António Costa à RTP, em que não se comprometeu com a eliminação total dos cortes nos vencimentos dos funcionários públicos, embora a tenha considerado concretizável no mais curto prazo possível.
O que vimos nos dias subsequentes? A “convicção” de muitos desses comentadores em como, tão-só chegado ao governo, António Costa limitar-se-á a imitar as medidas seguidas por passos coelho nestes últimos três anos!
Podemo-nos indignar com a falta de escrúpulos a quem envereda por essa linha de desinformação, que é a mesma pela qual colam António Costa à falseada herança de José Sócrates, ou lhe verberam as taxas sobre os turistas, tão normais noutras cidades europeias e cujo valor é irrisório em comparação com as que lhes são impostas pelo governo.
Ainda assim a situação dos últimos dias a respeito da corrupção em torno dos vistos gold voltou a abanar o castelo de cartas, que metaforiza o executivo de passos coelho. E houve quem colocasse a questão: se novo escândalo capaz de derrubar de vez o governo, impuser a cavaco silva a convocação de eleições que ele já afirmou não desejar, como reagir ao novo e previsível argumentário desses mesmos comentadores de direita? A de que só estando em condições de ter pronto um programa de governo para a primavera, o Partido Socialista não seria confiável por “não estar preparado”!
Pode-se minimizar este perigo com a tese de que, a acontecer esse tipo de situação, a direita ainda mais veria reduzido o seu potencial apoio eleitoral. Mas, os seus comentadores tratariam de provocar a minimização do sucesso de António Costa, mesmo que em proveito de uma qualquer alternativa populista tipo marinho pinto! Porque ela daria tempo a essa mesma direita para renascer qual fénix protagonizada por rui rio!
É claro que ninguém duvida que António Costa já demonstrou noutras ocasiões estar mais do que preparado para liderar de imediato um novo Governo capaz de começar o trabalho de remoção das ruínas deixado por este de muito má memória e iniciar a construção de um futuro bem mais esperançoso para a maioria dos portugueses.
Que não queira divulgar de imediato essas medidas, será mais do que lógico e as razões até já foram atrás enunciadas - a falta de correspondência temporal entre a sua formulação e a possibilidade de serem imediatamente implementadas; a sua fácil deturpação por mero preconceito ideológico - mas há outra, de maior tomo a ser levada em conta: a de que nunca serviriam para sugerir ao executivo atual algo capaz de melhorar a sua ação, porque de tal forma contrário à sua perspetiva de governação, que seria estultícia pensar que pudessem ser levadas em conta.
Para já é fundamental que o Partido Socialista consiga passar para a opinião pública o que de concreto já propôs para alterar o atual orçamento com o objetivo de socorrer às situações de maior emergência social, nomeadamente no que diz respeito à pobreza infantil e ao apoio aos desempregados de longa duração. Só essas e outras medidas, que praticamente ainda não vimos divulgadas na comunicação social chegam para calar os que se alistaram como simpatizantes para, através das Primárias, ajudarem à mobilização para a mudança e agora se impacientam por ela não vir tão cedo quanto desejam. É que, para quem está à beira de perder o emprego ou vê os rendimentos cortados relativamente ao compromisso assumido pelo Estado, quando procedeu aos descontos para a reforma, cada dia a mais com este governo é uma verdadeira abominação.
Sem comentários:
Enviar um comentário