Sempre tive uma opinião muito negativa sobre xanana gusmão, cujo comportamento nunca me deixou quaisquer dúvidas quanto à sua falta de carácter. Nunca o vi como um líder à altura de Nicolau Lobato e outros lutadores da primeira hora pela independência da República Maubere, muito menos quando da prisão emitiu uma declaração a apelar ao abandono da luta armada contra o invasor indonésio. Curiosamente uma mancha no currículo, que nunca mais vi lembrada, por significar um evidente ato de traição para com o seu massacrado povo.
Nessa época conjugaram-se várias vontades para que a Indonésia visse reconhecida a ocupação de facto da metade oriental da ilha de Timor: o bispo ximenes belo era um eminente colaboracionista dos invasores, adotando sempre um discurso mais do que equívoco sobre os crimes por eles perpetrados em Díli, Baucau e, sobretudo, nas montanhas do território. E como esquecer o recém-condecorado durão barroso, sempre apostado em fazer pela sua vidinha, e a defender como líder da oposição as vantagens do conformismo dos timorenses para que pudessem ser tratados com menos violência pelos agressores.
Tiveram então muita importância para a imposição de um referendo sob os auspícios da ONU quem governava Portugal: o primeiro-ministro António Guterres, o Ministro dos Negócios Estrangeiros Jaime Gama e o Presidente Jorge Sampaio. É a eles que Timor-Leste deve efetivamente o intenso trabalho diplomático pelo qual a Indonésia se viu obrigada a testar a vontade das suas populações numa consulta supervisionada pelas instâncias internacionais.
Em 30 de agosto de 1999 os timorenses votaram no referendo, que assinalou de forma inequívoca a vontade em serem livres. Mas logo os mais oportunistas encontraram a oportunidade para iniciarem a tomada do poder, que lhes permitisse satisfazer as suas ambições pessoais. Com xanana gusmão à cabeça, que tudo fez para sabotar e combater quem efetivamente se batera pela independência - a FRETILIN - e governou o novo país em circunstâncias particularmente difíceis. Já então visava apossar-se da condução dos negócios relacionados com o petróleo.
A história dos juízes, da procuradora e do oficial da PSP agora expulsos do território é apenas mais um episódio do que tem acontecido em Díli desde que a FRETILIN foi remetida para a oposição ao poder vigente: a clique que rodeia xanana gusmão e integra o seu governo tem-se notabilizado em atos de corrupção mais do que evidentes. Como denunciou Mari Alkatiri os sinais exteriores de riqueza de muitos dos apaniguados do primeiro-ministro têm sido escandalosos, totalmente dissonantes com a realidade dos seus vencimentos como governantes. E por isso mesmo o sistema de Justiça de Timor-Leste está a querer julga-los por corrupção.
É essa a explicação para a decisão agora conhecida de se expulsarem os magistrados portugueses, alguns dos quais tinham esses processos à sua responsabilidade. E para que nenhum dos seus amigos seja incomodado, xanana já decidiu que não lhes seria retirada a imunidade parlamentar, crente de que entretanto conseguirá virar a seu favor os juízes locais agora avisados quanto à determinação em domesticá-los.
Mais do que um herói de pés de barro, xanana desmascara-se cada vez mais quanto à essência oportunista, que sempre o norteou.
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