1. A sondagem do “El Pais” para as opções dos eleitores espanhóis se as legislativas fossem hoje, dá 27% para o novo partido «Podemos», 26% para o PSOE e 20% para o PP.
À primeira vista estaríamos num cenário semelhante ao da Grécia, onde o Syriza continua a liderar as preferências de voto e o PASOK paga seriamente o custo da sua coligação com a direita.
Tanto bastará para que o Bloco de Esquerda e os seus derivados embandeirem em arco quanto à tendência europeia para a formação de governos fortemente influenciados por quem vê numa apressada mudança de rumo a solução para a presente crise.
Não é essa, porém, a leitura que possamos fazer desta novidade: se é certo que, na Grécia, foram os socialistas a colocarem-se completamente de fora das aspirações dos seus cidadãos quanto a uma política diferente - e daí que fosse eu eleitor em Atenas e o meu voto iria para a formação de Alexis Tsipras! - não é isso que se passa aqui ao lado: são muitos os sinais dentro do Podemos que, a exemplo, do já sucedido com o luso Bloco de Esquerda, imperará proximamente o sectarismo, capaz de o estilhaçar em múltiplas frações e grupúsculos. Por isso mesmo será o PSOE, com um novo líder, Pedro Sánchez, recentemente legitimado no Congresso de final de julho, a vencer os desafios dos próximos meses e a apresentar-se às eleições do próximo ano como o provável primeiro-ministro.
A tal acontecer a Península Ibérica passará novamente a ter dois primeiros-ministros socialistas em simultâneo, capazes de baterem o pé aos que continuarem a teimar nas políticas de austeridade a nível europeu.
Esperemos que, entretanto, o PS francês também ultrapasse a sua crise identitária lançada por quem até tem vergonha da palavra «socialista» e consiga, com Montebourg ou Hamon, até mesmo com Aubry, fazer regressar a esquerda francesa à condição de forte obstáculo ao aparente passeio que marine le pen está a fazer até ao Eliseu.
Dado que, entretanto, as consequências das contra-sanções de Putin contra a União Europeia estão a causar séria mossa na Polónia, na Finlândia e até na própria Alemanha, será crível que o discurso dos respetivos governos contra os países do sul se atenue, possibilitando a exequibilidade das soluções para a resolução dos impasses da nossa economia, que António Costa promete superar com a sua Agenda para os próximos dez anos.
Quando ainda predominam os comentadores de direita a considerar não existirem alternativas sérias às opções austeritárias de passos coelho e paulo portas, abrem-se expectativas quanto à possibilidade de a realidade lhes sair com surpresas, que não estão propriamente à espera.
2. No seu comentário semanal à atualidade política, José Sócrates contestou a ideia de ter sido chamado à ordem do dia nos debates parlamentares por iniciativa do Partido Socialista.
Como muito bem lembrou foi a direita, que teve essa responsabilidade ao defender as suas opções orçamentais em função das supostas malfeitorias causadas pelo anterior governo.
O que se viu foi, pois, uma novidade: dantes a direita defendia-se com o anterior governo e não tinha resposta, enquanto agora passou a ter. Por isso mesmo essa estratégia, que Sócrates lembra já ter sido gravosamente penalizada nas eleições europeias, estará condenada, porque doravante terá maiores dificuldades em fazer passar uma narrativa sem verdadeira ligação com o que foi a realidade.
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