Num texto ontem publicado na versão diária do «Expresso», Nicolau Santos lembra o controverso historial dos investidores brasileiros na nossa economia nos últimos anos. Fala da Cimpor, que, consumada a privatização, iria manter em Portugal o seu centro de decisão, e logo o mudou para o Brasil na primeira oportunidade de forma a que seja hoje uma irrelevância entre as empresas do setor.
Aborda a seguir o caso da PT, acabada de vender à Altice por uma Oi, que apenas pareceu interessada em conseguir as mais-valias com que resolver a sua periclitante situação financeira deitando para o lixo a ideia peregrina de um gigante das telecomunicações para todo o espaço lusófono..
Conclui Nicolau Santos: “O mínimo que se pode dizer, pois, é que acionistas brasileiros diferentes conseguiram, em pouco mais de dois anos, destruir duas das melhores empresas portuguesas. Talvez não seja despiciendo ter isto em conta em privatizações futuras – nomeadamente a da TAP, em que se anunciam dois ou três interessados vindos daquele país. É que, como se sabe, gato escaldado da água fria tem medo.”
Ora, precisamente sobre a TAP, o antigo ministro Pedro Silva Pereira foi ler detalhadamente o caderno de encargos e o que lá encontrou deixou-o estarrecido: bem podem esquecer as ilusões os que julgam possível ao novo governo socialista reverter o curso dos acontecimentos por causa dos supostos 34% com que o Estado português fica durante dois anos.
De facto, pires de lima e os seus cúmplices já cuidaram de deixar tudo decidido de antemão, não só a obrigatoriedade de venda dessas ações ao iminente comprador, mas também o próprio preço por que elas irão ser entregues: “o Governo não só concede desde já aos privados o direito a comprar a totalidade do capital social da TAP, como conclui com eles, já nesta fase, a negociação das condições em que o Estado se obriga a vender os restantes 34% do capital.”
É caso para suspeitar dos contornos de um negócio decidido à pressa, sem qualquer consulta ao maior partido da oposição e com todos os sinais indiciadores de uma combinação entre vendedor e comprador. Decerto que poderão aparecer muitos candidatos à compra da TAP, mas pires de lima já sabe por certo a quem a quer entregar. Como provavelmente também o desconhecido jacinto capelo do rego também já saberá como repetir a demonstração da sua famosa “generosidade”...
No entanto, os nossos jornalistas em vez de denunciarem os indícios de uma mais que comprometedora falta de transparência são capazes de discutir o sexo dos anjos, como é exemplo a suposta intenção de José Sócrates em influenciar quem iria dirigir as publicações da Controlinveste.
O que é mais grave para os interesses dos portugueses: discutir quem é que está à frente de um jornal ou com quem este governo anda a tramar na sombra duvidosas negociatas, que destroem na prática empresas tão emblemáticas como, ontem a PT, e amanhã a TAP?
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