O escritor norte-americano Russell Banks foi um dos mais entusiásticos apoiantes de Barack Obama, quando ele apresentou a candidatura à Casa Branca em 2008. Hoje, mesmo depois de ter mantido o apoio para a reeleição, não consegue calar o desapontamento: tendo prometido muito, o antigo senador do Illinois, concretizou muito pouco!
O melhor exemplo da completa antítese entre o Obama de hoje e o do seu posicionamento enquanto senador, está espelhado na cena do filme de Laura Poitras, «Citizenfour», onde se o vê a discursar contra Edward Snowden.
Em vez do político que prometia mudança, transparência e respeito pelos direitos humanos, depara-se-nos um banal propagandista com postura de vencido. Porventura ele mesmo terá essa consciência de se ter transformado num mero porta-voz oficial da classe política e financeira.
Para Banks ele lembra Ricardo III, a personagem shakespeareana que, abandonado por todos no campo de batalha, está decidido a oferecer o reino por um cavalo.
Apesar de se viver um clima económico bem mais favorável do que em 2008 e 2012, Obama ficou prisioneiro dos que financiam os seus adversários republicanos: a alta finança de Wall Street e as multinacionais. Desperdiçou assim o apoio de quem o guindara ao poder: os jovens, os negros, os hispânicos, as mulheres, os mais instruídos e os povos. Ou seja os tais 99%, que deveriam estar nesta altura a contestar ativamente o estado plutocrático em que se converteu a nação americana. E, no entanto, esse 1% de privilegiados consegue convencer todos os demais a votarem contra os seus próprios interesses.
Afirma Banks: os americanos sempre sentiram a necessidade de substituir a análise económica por uma mitologia: o sonho americano, a falácia da sociedade sem classes, a ascensão social, a meritocracia. Eis porque o socialismo nunca ganhou raízes nos EUA e o comunismo não passou de uma ameaça exterior, como o vírus Ébola.”
O pior é que se voltámos aos tempos de Mark Twain, quando os “barões ladrões” tomavam conta da economia para escândalo do escritor do Mississípi e o abismo entre ricos e pobres tornava-se cada vez mais obsceno.
Vivemos numa era miserável de excessos e de injustiças, em que os milionários pagam proporcionalmente menos impostos que as suas secretárias e os patrões ganham 200 a 300 vezes o rendimento de um dos seus empregados. Em que se vendem apartamentos por dezenas de milhões de dólares em muitas cidades e, ao mesmo tempo, cresce nelas o número de sem abrigo. Em que administradores de empresas falidas recebem bónus de milhões enquanto os trabalhadores são despedidos.
Mas se reverter todas estas injustiças parece tarefa mais hercúlea do que no tempo do criador de «Tom Sawyer» surgem sinais animadores como os das grandes manifestações de protesto pela morte de Michael Brown. É que desde as ações desenvolvidas no âmbito da campanha pelos Direitos Cívicos que não se via nada assim nos EUA.
Talvez também ali o mundo pule e avance...
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