1. Esta segunda-feira, subsequente ao que alguns qualificaram como o «terramoto grego», teve algumas situações singulares, a começar pela anunciada coligação entre o Syriza e os Independentes Gregos.
Com essa notícia sentiram-se aliviados os que tinham ficado com cara de enterro desde a véspera: logo afiançaram a demonstração da validade da velha tese da aproximação entre os extremos ou a fragilidade de um governo assente em tão precária convergência de valores ideológicos.
Mas olhando noutra perspetiva, também em Portugal, já surgiu uma convergência de setenta e quatro relevantes nomes da direita e da esquerda em torno da necessidade de resolver o problema da dívida portuguesa. Porque não há-de Tsipras encontrar apoio em quem execra tão intensamente a austeridade, mesmo discordando do que defende a respeito da imigração ou dos direitos dos homossexuais? Não é a emergência económica e financeira da Grécia a prioridade sobre o que deve fazer no curto e no médio prazo?
Cá por mim vejo a reação dos detratores de Tsipras como o reflexo dos que sempre viram a realidade a preto e branco e agora estão obrigados a olharem-na em cores a que não estavam habituados...
2. Foi consensual em quantos comentaram o sucedido em Atenas, que uma das reações mais infelizes - eu qualificá-la-ia de simplesmente estúpida! - dos dirigentes europeus à vitória do Syriza, terá sido a de passos coelho. É que associar o programa do Syriza a um “conto de crianças” dá direito pelo menos a um sorriso amarelo, quando temos presente o texto de João Galamba, que escreveu existir “uma estranha coincidência entre políticas que o governo rejeita e o efeito positivo que essas políticas têm na vida dos portugueses” , seja as ditadas pelos acórdãos do Tribunal Constitucional, seja pela estratégia do BCE agora anunciada por Mário Draghi.
Com uma tão evidente incapacidade para entender o que se passa à sua volta, como é que passos coelho ainda se julga no direito de proferir disparates deste tipo?
3. Até é possível que um dirigente do PSD, que foi entrevistado pelo «Expresso» a propósito da vitória do Syriza, tenha alguma razão, quando calcula que mariano rajoy pressionará as altas instâncias europeias a não darem facilidades aos gregos, porquanto isso favoreceria a provável vitória do Podemos.
Mas, convenhamos que essas mesmas instâncias devem também tirar algumas conclusões sobre o que fizeram nestas semanas mais recentes: ao chantagearem esses mesmos gregos quanto á forma como deveriam ir votar, mais os convenceram a dar a vitória do Syriza.
Se quiserem ser inteligentes a Comissão Europeia, o BCE e o Eurogrupo concluirão que a estratégia seguida nestes três anos fracassou rotundamente pelo que só reduzirão a probabilidade de sucesso eleitoral dos partidos situados nos extremos dos espectros políticos, se apostarem numa política para os cidadãos europeus em vez de se orientarem exclusivamente para os interesses dos grandes grupos financeiros.
4. Ao contrário das palermices de passos coelho a reação de António Costa à vitória do Syriza foi inteligente e judiciosa: ele considerou-a “mais um sinal da mudança de orientação política que está em curso na Europa” e a demonstração do “esgotamento das políticas de austeridade e a necessidade de termos outra política de moeda única em que a moeda seja efetivamente comum e não provoque resultados muito assimétricos, com grandes benefícios para alguns e uma enorme pressão e austeridade para todos os outros”.
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