Por ser sábado, hoje é daqueles dias em que, se acaso tomarmos a opção de ver as notícias da noite na SIC, temos de nos apressar a utilizar o zapping para nos pouparmos à irritação suscitada pela voz de marques mendes.
Muito embora vá conhecendo algumas das suas atoardas em segunda ou terceira mão, continuo sem compreender o sentido de o escutarmos como comentador político. Quem é ele para merecer essa distinção? O que fez de minimamente prestigiante para ser convertido num «senador» da República? Para além das assopradelas, que lhe encomendam para debitar como se fossem grandes novidades, que pensamento inovador caberá na sua quadrilátera cabeça?
E, no entanto, um sujeitinho cujo nome salta logo para as notícias quanto a envolvimentos em negócios mais do que estranhos - Tecnoforma, vistos gold entre os mais recentes - põe-se a proferir grandes juízos éticos e morais com ar presumido.
Vale a pena voltar ao ensaio «Os Facilitadores» de Gustavo Sampaio - infelizmente publicado sem a repercussão merecida - para apreciarmoss mais alguns esclarecimentos sobre o conselheiro de cavaco silva.
Na página 85 do livro, o autor dá-nos exemplo do descaramento de marques mendes, quando aborda assuntos nos quais deveria ter em conta um óbvio conflito de interesses: “marques mendes criticou o ‘péssimo exemplo’ dos contratos swap , não obstante ser consultor de uma sociedade de advogados especializada, precisamente, nesse género de instrumentos financeiros derivados.”
Cumpre-se com ele a máxima: «”Bem prega frei Tomás, olha para o que ele diz, não olhes para o que ele faz!”.
Noutro exemplo evidente de como marques mendes solta tiradas demagógicas num sentido condenatório para com os seus próprios atos, vale a pena ter em conta o que escreveu na sua crónica semanal na «Visão» sobre um dos negócios mais polémicos dos últimos anos: “antes ainda tivemos o cancro inacreditável das PPP rodoviárias onde o Estado se deu ao luxo de hipotecar por muitos e bons anos uma parte da saúde financeira do regime. “
Ora, enquanto elemento destacado da Abreu Advogados, marques mendes sabe perfeitamente que dois dos seus principais clientes - o Banif e o Novo Banco - são acionistas de referência do grupo Ascendi, um dos mais envolvidos nessas mesmas PPP.
Noutro caso, o do BPN, marques mendes afirmou em abril de 2014 que “tanto durão barroso como Vítor Constâncio estiveram mal. O BPN é um caso de polícia e foi mal feito ter sido transformado num caso de política.”.
Ora a Abreu Advogados está ligada ao BPN, ao BPN Imofundos e ao Siresp, entre outros e o próprio marques mendes individualmente com joaquim coimbra - um dos principais suspeitos no respetivo processo -, primeiro na direção geral do PSD e depois na administração da Nutroton Energias.
Foi em funções nesta empresa que o Fisco detetou vendas ilegais de ações por ordem de marques mendes que terão prejudicado o Estado em 773 mil euros. Tais ações foram vendidas por 51 mil euros, mas valiam 60 vezes mais.
Ao contrário do que sucede com José Sócrates este caso concreto não carece de maior demonstração: os factos estão escarrapachados no livro de Gustavo Sampaio bastando ao Ministério Público inquirir o seu autor. Porventura para se lhe deparar com o que frequentemente sucede nestas situações: ele costuma invocar falta de memória” sobre os assuntos em que é desmascarado. Mas que a sua assinatura e a de joaquim coimbra estão evidenciadas nos contratos em causa ninguém o duvida.
Se calhar quem deveria estar na prisão de Évora, por muito melhores razões, era o comentador da SIC.
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