Um dos grandes mistérios dos últimos três anos foi a boa imprensa de que usufruiu paulo macedo à frente do Ministério da Saúde.
Se é certo que manuela ferreira leite tratara de o fazer sair do anonimato para cuidar dos impostos durante o governo de durão barroso, a sua subsequente passagem pela banca não lhe empalideceu o “brilho” apesar da barafunda que ia no BCP na altura em que era seu vice-presidente.
Nos primeiros anos do governo passos coelho os jornais iam desgastando a imagem de sucessivos ministros, mas havia sempre alguém a contrapor com a “excelência técnica” e a “competência” do titular do Serviço Nacional de Saúde.
E, no entanto, nunca perderam o pio os grilos falantes que lembravam o seu vínculo passado aos grupos económicos abalançados a investimentos na saúde privada pelo que não era nada inocente a sua indigitação para aquela pasta.
Durante três anos o orçamento de Estado foi minguando quanto aos gastos com o setor, mas continuavam a existir os cândidos defensores do ministro, que alegavam melhor gestão e ataque fero à corrupção e à promiscuidade entre médicos e multinacionais farmacêuticas.
Quando os ventos começavam a tornar-se-lhe desfavoráveis e veio o caso da legionella, que lhe permitiu segurar o barco ainda mais algumas semanas por muito que a eficiência demonstrada na resolução daquela crise pareça dever-se muito mais ao mérito do Diretor Geral da Saúde - no cargo há muitos anos, incluindo durante os governos de José Sócrates - do que à ação de quem o tutela.
É por isso paradoxal, que a verdadeira face do setor tal qual paulo macedo o irá deixar comece agora a revelar-se com as urgências hospitalares a romperem pelas costuras, doentes sem serem vistos após horas de espera e mortes sucessivas a surgirem como corolário do caos instalado.
Constata por isso Correia de Campos na sua crónica semanal no «Público»: “De forma larvar começam a aparecer na Saúde as consequências do ajuste orçamental violento a que estamos submetidos desde há três anos e meio. Ainda sem resultados visíveis nos grandes agregados das estatísticas de mortalidade. Nem sequer nas de morbilidade ou de doença, essas mais difíceis de colher. Mas no desempenho dos serviços, ou seja, no funcionamento do SNS, que o Governo proclama defender até à eternidade.”
Agora as circunstâncias parecem tender para algo parecido com a Lei de Murphy com as más notícias a repetirem-se dia-após-dia (hoje foi por exemplo o estado deprimido da maioria dos técnicos do INEM!).
Defensor fanatizado da entrega do setor aos interesses privados, paulo macedo apostou fortemente nessa estratégia: “A solução fácil, mais uma vez, foi recrutar médicos sem ligação ao hospital, de empresas constituídas para fornecer esta mão-de-obra qualificada.”
No ano em que o Serviço Nacional de Saúde faz trinta e cinco anos de vida temos um setor com profissionais - quer médicos, quer enfermeiros, quer pessoal auxiliar - mal pago e desmotivados para que uns intermediários fiquem com a diferença entre o que lhes pagam e o que recebem do Ministério da Saúde.
Teremos, pois, um novo governo a contas com uma herança pesada na Saúde e com a necessidade imperiosa de alterar significativamente o rumo imposto por paulo macedo. Embora que, com cada vez mais camas disponíveis, o setor privado vá vender cara a sua urgente contenção...
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