O pior navio que tripulei foi o «Aurélio C», então pertencente a um efémero armador da nossa decadente marinha mercante. Estava-se em 1991 e quando a minha mulher foi ter comigo ao cais da Trafaria aonde acabara de atracar, vindo de Viana do Castelo, confessou ter-lhe caído o coração aos pés.
De facto esses cinco meses em que ali fiz os possíveis para que ele nunca ficasse inoperacional - e, só tivemos de parar uma vez durante três horas na Biscaia para resolver uma avaria! - foram os que melhor me deram a noção dos chaços carregados de ferrugem, que garantiram algumas das melhores páginas dos escritores Joseph Conrad e Álvaro Mutis, conhecidos pelos romances sobre ambientes marítimos.
Foi a tão inolvidável experiência de vida, que regressei ao ver os navios em fim de vida utilizados pelos traficantes para deixar à deriva centenas de desesperados nas águas do Mediterrâneo.
Se ainda existisse o «Aurélio C» não me admiraria vê-lo assim utilizado…
Sem comentários:
Enviar um comentário