O texto «A Vida de Carlos Santos Silva na Prisão» do jornalista Plácido Júnior, e inserido na «Visão» desta semana, é bastante elucidativo quanto à falta de escrúpulos dos responsáveis judiciais pela prisão dos supostos arguidos da «Operação Marquês».
Não é difícil concluir que a estratégia empreendida por rosário teixeira, carlos alexandre, e quem com eles se agita na sombra, para conseguir o assassinato político de José Sócrates está a falhar em toda a linha. E só lhes resta prolongar o mais possível a farsa até que o castelo de cartas em que assentaram a acusação acabe por ruir confrontando-os com a indignidade dos seus comportamentos.
O texto em causa alinha alguns episódios lapidares das estratégias do ministério público e do juiz de instrução, que deveriam seriamente preocupar o Conselho Superior da Magistratura pela má imagem dada à Justiça por quem deveria estar na primeira linha a defender-lhe a irrepreensibilidade.
Sintetizemos, pois, os casos revelados no artigo:
- em 27 de janeiro era enviado de Genebra um envelope com documentos importantes endereçados à advogada de Carlos Santos Silva e que, chegado a Lisboa a 2 de fevereiro, seria desviado pela Autoridade Tributária, que tem uma equipa a trabalhar com rosário teixeira;
- a 6 de fevereiro, decerto querendo demonstrar a impunidade com que está a tratar deste caso, quem procedeu a esse desvio possibilitou a entrega do envelope, ostensivamente rasgado e dentro de um invólucro de plástico hermeticamente fechado, à advogada Paula Lourenço;
- os documentos que constavam desse envelope, relativos ao movimento de contas bancárias de Carlos Santos Silva na Union des Banques Suisses até final de 2009, já eram do conhecimento de rosário teixeira desde novembro de 2013, pois recebera-os por email e os entregara a carlos alexandre. Só assim e explica que os interrogatórios ao empresário e ao antigo primeiro-ministro tivessem tais dados como principais fundamentos. Quer o procurador, quer o juiz, demonstraram bem a sua falta de carácter ao contrariarem o dever de «verdade e lealdade» para com as partes.
- Paula Lourenço já deparara, entretanto, com as manobras dilatórias do ministério público português junto da UBS e das autoridades suíças, quer ao criarem-lhe dificuldades em aceitarem a procuração do seu cliente - obrigando-a a duas viagens a Genebra -, quer pelo pedido de rosário teixeira ao seu colega suíço para que atrasasse durante mais de um ano o envio da documentação recebida por email (e por isso mesmo ainda apenas oficiosa) para conseguir sustentar o pedido de prisão preventiva;
- a 13 de fevereiro, rosário teixeira contacta Paula Lourenço para marcar novo interrogatório ao seu cliente para dia 19, mas ela não compareceu no escritório nesse dia por estar adoentada só tomando conhecimento dessa convocatória no dia 16, altura em que , sem êxito, procura mudar a data proposta por já ter a agenda preenchida;
- a 15 de fevereiro e sem adivinharem esse desconhecimento de Paula Lourenço quanto à nova inquirição ao seu cliente, alguém do ministério público incumbe o controverso António Morais, (conhecido por ter sido o professor que passara Sócrates em cinco cadeiras da Universidade Independente) de convidar um gestor de uma das empresas de Carlos Santos Silva para um encontro num centro comercial lisboeta, onde o insta a convencer este último a prescindir dos serviços da advogada e a inculpar Sócrates quando fosse ouvido no dia 19. Seria interessante conhecer de António Morais a forma como tomara conhecimento dessa nova audição e que contrapartidas lhe teriam sido oferecidas…
- Nesse mesmo domingo, dia 15, o mesmo António Morais convence um primo de Carlos Santos Silva a vir da Covilhã a Lisboa para um encontro na pastelaria Mexicana. Nesse encontro o familiar do empresário depara com um interlocutor desconhecido - e ainda por identificar - que se mostra agressivo a chantagear Carlos Santos Silva com a prisão da esposa se na audição do dia 19 não inculpar Sócrates. Segundo terá dito a filha do casal Santos Silva, ainda com 13 anos, veria os dois progenitores na prisão se não cumprissem com o que se lhes exigiria.
- Saindo para a rua ainda perturbado com a experiência, o primo de Santos Silva seria abordado por António Morais, aparentemente a chegar ali nessa altura e a repetir-lhe as condições da chantagem;
- Posteriormente, quando a defesa de Carlos Santos Silva procurou aceder às câmaras de vigilância da pastelaria para identificar o indivíduo, deparou-se com avaria das mesmas em singular coincidência;
O pasquim da Cofina e outros media da sua igualha trataram de enfatizar o silêncio de Carlos Santos Silva na audiência do dia 19 de fevereiro como se tal postura indiciasse culpabilidade, mas de facto, ela mais não representou do que um veemente protesto pelas tortuosas práticas da Acusação.
Estamos, assim, a caminho de seis meses de infame humilhação a Sócrates e ao seu amigo, sem que rosário teixeira e carlos alexandre consigam apresentar uma única prova da absurda tese, que construíram e fizeram passar para os jornais. Pior ainda, quando apostariam em que a já longa prisão enfraquecesse o ânimo dos dois amigos, deparam-se com a força de carácter de quem se sabe inocente e está disposto a bater-se pela sua demonstração.
Em desespero de causa andam agora a disparar tiros em todas as direções a ver se algum consegue acertar num alvo minimamente utilizável para fundamentarem o que carece de qualquer fundamento. No íntimo já se adivinham futuros réus de um caso destinado a ficar como uma indelével mancha na Justiça portuguesa.
Aproximando-se o fim de um ciclo político em que muito do que aconteceu na sociedade portuguesa nos fez regressar aos tiques vigentes a 24 de abril, será imprescindível que o novo ciclo volte a reabrir as portas que a Revolução de 1974 tinha escancarado e, entretanto fechadas … nomeadamente neste tortuoso caso do ministério público. Com punição exemplar a quem se comprovar merecê-la!
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