domingo, 9 de junho de 2019

Desequilíbrios mediáticos e equívocas opiniões


Não é que não o soubéssemos, mas o estudo divulgado pelo MediaLab do ISCTE veio confirmá-lo na plenitude: nos últimos três anos aumentou o número de comentadores do PSD e do CDS nas diversas televisões, agravando-se o desequilíbrio anterior em seu favor e relativamente aos conotados com as esquerdas. Isto significa que os donos das televisões não se conformaram com a formação do governo de maioria parlamentar liderado por António Costa e logo cuidaram de criar um concertado fogo de artilharia opinativa destinado a desqualificá-lo, a fazê-lo cair. Nos canais generalistas em sinal aberto não há um único comentador próximo dos partidos das esquerdas, sendo vários os que têm tribuna e provém das direitas.
Outras confirmações retiradas quantitativamente do estudo é o forte pendor dos homens no exercício do comentário político (84%) e a clara ostracização a que o PCP se vê sujeito. Igualmente sem surpresa é a constatação sobre o canal do «Correio da Manhã», aquele em que é mais desequilibrada - numa base de três para um - a relação entre opinadores de direita e de esquerda.
Não é que as direitas estejam a recolher grandes frutos dessa insistência, mas poderemos questionar sobre se continuaria a deter o apoio de um terço do eleitorado se não se visse tão privilegiada na ocupação dos tempos de emissão televisiva destinados à política, tendo em conta a importância destes meios de comunicação na consolidação das escolhas eleitorais dos seus espectadores.
Às vezes os próprios comentadores das direitas tendem a desajudá-las, quando lhes sobra alguma honestidade intelectual ou visam interesses ideológicos imediatos dentro da sua própria barricada. No primeiro caso Vasco Pulido Valente tratou de desancar em Marcelo e em Agustina neste sábado. A propósito da falta de gravitas do primeiro escreveu que “o mundo não é feito de beijinhos e de selfies”. E quanto à incapacidade da segunda em ver reconhecido internacionalmente o talento revelou-se taxativo quanto à razão mais óbvia: “filha de Entre Douro e Minho (...) nunca percebeu o que ficava para lá das fronteiras em que sempre se fechou”.
No caso de João Miguel Tavares as suas palavras têm de ser lidas à luz da ânsia em ver Rui Rio apeado de líder do PSD para ressuscitar Passos Coelho. Por isso até tem razão quando aborda a esdrúxula proposta de Rui Rio em criar condições para algumas cadeiras da Assembleia da República ficarem vazias: “é uma visão infantil do mundo, que reflete uma profunda ignorância sobre aquilo que a política é e para que serve”.
Não é, porém, pelo facto de dizer aqui e acolá alguma coisa certa, movido pelas suas obscuras razões, que o discursador escolhido por Marcelo para «abrilhantar» este 10 de junho perca a áurea ganha nas redes sociais, onde é tido como um «caluniador profissional».

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