No saldo profundamente negativo do período em que Passos Coelho exerceu funções de primeiro-ministro importa realçar a tentativa de privatizar o que restava do setor empresarial do Estado. Muito embora os efeitos de outras decisões na vida dos portugueses tivessem sido sentidas como mais dolorosas - os cortes nas pensões e vencimentos dos funcionários públicos, o fecho de empresas com o súbito aumento do desemprego - as que proporcionaram o controle privado de setores fundamentais da economia na energia, nos transportes ou nos serviços postais, além de motivadas por razões estritamente ideológicas, visaram a redução da capacidade do Estado em manter uma réstia de controle sobre quanto mais influencia a vida dos cidadãos. Doravante a governação assemelhar-se-ia à dos capatazes eleitos por escrutínios aparentemente democráticos, mas indigitados pelos seus patrões para decidirem as questões de lana caprina, que resultariam do efetivo mando das oligarquias financeiras sedeadas, ou não, entre nós.
Tão-só tomou posse, o governo de António Costa procurou reverter o que ainda era possível salvaguardar. Já não houve tempo para evitar a entrega dos CTT a quem os tem esbulhado dos ativos nele ainda existentes, mas os transportes urbanos da capital e a TAP ainda foram recuperados, mesmo que, no caso da última, só em metade do seu capital. O crime quase se consumou e o novo governo apenas pôde impedir, que fosse definitivamente letal.
É preciso descaramento para que Rui Rio venha agora acusar quem impediu que o país perdesse definitivamente uma companhia aérea de referência e queira esquecer quem cometeu o crime. Será que consegue enganar alguém com a ideia de um mau negócio, que terá garantido lucros aos privados e prejuízos para os contribuintes? A exemplo de outros erros de cálculo em que tem sido fértil ao longo de todo o seu percurso político, Rio julga transformar em verdades o que de mentira alimenta o seu discurso político. Mas será preciso acrescentar algo mais a quem. a respeito da recente derrota eleitoral, se apressou a imputar responsabilidades a outrem, que não a si mesmo, mesmo sabendo-se que um dos visados, Paulo Rangel, constituiu a sua escolha pessoal para tal escrutínio?
Homem mesquinho e parolo, Rui Rio é o retrato de uma direita portuguesa, que não dá mostras de encontrar quem assuma a sua liderança com outro sentido de Estado e um pensamento consistente quanto à forma como, no futuro, os portugueses poderão viver melhor. Provavelmente porque, hoje em dia, as direitas nada terão a propor de substantivo para que um futuro melhor se torne realidade entre nós.
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