sexta-feira, 7 de junho de 2019

Entre o que cá se passa e o quanto lá fora muda


Assistir ao debate quinzenal só se justificava para compreender o clima decorrente dos resultados eleitorais nas europeias do dia 26. Aconteceu o expectável: Cristas a adotar tom menos gritante, Negrão a enlear-se nas suas próprias contradições, Catarina a julgar-se crescida o bastante para exigir mais do que dita a sensatez e Jerónimo no tom conciliador de quem já muito viveu e sabe da pertença do primeiro milho primaveril a outros pardais. A pairar sobre todos e com a superioridade de ser o único a saber bem para onde quer ir e como lá chegar, António Costa faz figura de senhor.
E, no entanto... Na questão das PPP’s do Serviço Nacional de Saúde até estou mais próximo do Bloco do que do meu próprio partido. Eu sei que Marcelo promete guerra acesa se sentir beliscados os interesses privados, mas há alturas em que vale a pena esticar a corda. Sobretudo quando o inquilino de Belém se mantém general, mas sem tropas em quem assentar as suas disposições.
A Saúde é, de facto, o setor da atividade das sociedades ocidentais, que mais gula suscita nos oligarcas da banca, a babarem-se com a hipótese de o explorarem até ao tutano. Não admira que, dias atrás, Trump prometesse ajuda à brexizada Inglaterra, sugerindo entre outras privatizações, a do Serviço Nacional de Saúde, que os amigos tratariam logo de comprar por tuta e meia e garantiriam o miserável desempenho conhecido nos Estados Unidos e tão bem denunciado no «Sicko» de Michael Moore.
Acaso tenham consciência do risco envolvido, os muitos enfermeiros portugueses, que emigraram para o outro lado do Canal da Mancha, bem podem meter as barbas de molho, que a sobrexploração e a falta de condições de trabalho ficariam garantidas tão só se chegasse à situação pretendida pelo pato-bravo de Brooklyn.
Vale-nos o facto de, eleição após eleição, ir mudando o cenário político europeu. Ontem definiu-se a viragem na Dinamarca, onde a esquerda, liderada por Mette Frederiksen  e associada aos ecologistas, devolveu a direita e a extrema-direita para irrelevante oposição. Depois de António Costa e Tsipras quase fazerem figura de últimos moicanos numa Europa virada para os partidos do PPE, a tendência para o outro lado da barricada acentua-se. E não podemos ignorar os apertos por que passa Salvini numa Itália agora sujeita ao garrote de Bruxelas.
Steve Bannon deve estar a sentir-se cada vez mais isolado num continente que lhe faz sentir a obsolescência do seu pensamento. Não tarda nada quem ainda terá paciência para lhe manter a ilusão de profeta em terra alheia? Rabo entre as pernas ver-se-á devolvido à procedência donde nunca deveria ter saído...

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