Ontem foi dia de jornada mundial pelo ambiente de acordo com as disposições da ONU. Razão para que estivessem na mira os transportes aéreos devido à sua responsabilidade na emissão de CO2. A Ryan Air, por exemplo, está identificada como um dos dez maiores poluidores europeus, argumento que justificou um debate no parlamento francês quanto à possibilidade de se legislar para que se proíbam os voos internos, porquanto o tempo de viagem entre Paris e Marselha não é muito diferente se feito de avião ou de TGV, enquanto a emissão de dióxido de carbono por passageiro se revela bastante mais gravosa na primeira alternativa comparando-a com a segunda.
Não é, porém, só na França, que cresce o repúdio pelas viagens aéreas de carácter lúdico ou mesmo profissional. Na Suécia, o país de Greta Trunberg, que vem mobilizando a juventude europeia para exigir medidas concretas de defesa do ambiente, ganhou relevância o «flygskam», que se traduz na vergonha em recorrer ao transporte aéreo. Pretende-se que se torne socialmente censurável a atitude de ir de férias para distâncias, que obriguem a voos para se alcançarem tais destinos. As fotografias no instagram, no twitter ou no facebook - habitualmente justificadas como meio de autopromoção! - tornam-se matéria de condenação de quem a tal se atreve, porque passa a ser visto como de quem só pensa no seu prazer egoísta em detrimento do interesse coletivo. E com os meios disponíveis para as videoconferências coletivas deixaram de se justificar as deslocações para conferências, colóquios, seminários e outros eventos, que mobilizam diariamente milhares de pessoas de um lado para o outro.
Numa altura em que se discute se o aeródromo do Montijo servirá ou não de alívio bastante para a sobrecarga de passageiros na Portela está em equação a possibilidade de estar iminente a mudança de paradigma nas nossas sociedades de consumo. Apanhar um avião poderá a ser visto como motivo de vergonha para quem a tal se atrever, no que poderá constituir um primeiro passo para o decrescimento económico por que passará futuramente a preservação do nosso futuro neste planeta tão ameaçado. Tal decrescimento poderá significar o efetivo dobre de finados do sistema capitalista, geneticamente incapaz de conviver com os constrangimentos, que o impeçam de manter a espiral de consumo dos depauperados recursos naturais como se eles fossem infinitos. A ascensão dos partidos e movimentos ecologistas nas recentes eleições europeias prenunciam esse futuro muito desafiante para as esquerdas ao exigirem-lhes a inserção das variáveis relativas á sustentabilidade do planeta nas suas estratégias socializantes.
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