quinta-feira, 6 de junho de 2019

Vida difícil a que se anuncia para os transportes aéreos


Ontem foi dia de jornada mundial pelo ambiente de acordo com as disposições da ONU. Razão para que estivessem na mira os transportes aéreos  devido à sua responsabilidade na emissão de CO2. A Ryan Air, por exemplo, está identificada como um dos dez maiores poluidores europeus, argumento que justificou um debate no parlamento francês quanto à possibilidade de se legislar para que se proíbam os voos internos, porquanto o tempo de viagem entre Paris e Marselha não é muito diferente se feito de avião ou de TGV, enquanto a emissão de dióxido de carbono por passageiro se revela bastante mais gravosa na primeira alternativa comparando-a com a segunda.
Não é, porém, só na França, que cresce o repúdio pelas viagens aéreas de carácter lúdico ou mesmo profissional. Na Suécia, o país de Greta Trunberg, que vem mobilizando a juventude europeia para exigir medidas concretas de defesa do ambiente, ganhou relevância o «flygskam», que se traduz na vergonha em recorrer ao transporte aéreo. Pretende-se que se torne socialmente censurável a atitude de ir de férias para distâncias, que obriguem a voos para se alcançarem tais destinos. As fotografias no instagram, no twitter ou no facebook - habitualmente justificadas como meio de autopromoção! - tornam-se matéria de condenação de quem a tal se atreve, porque passa a ser visto como de quem só pensa no seu prazer egoísta em detrimento do interesse coletivo. E com os meios disponíveis para as videoconferências coletivas deixaram de se justificar as deslocações para conferências, colóquios, seminários e outros eventos, que mobilizam diariamente milhares de pessoas de um lado para o outro.
Numa altura em que se discute se o aeródromo do Montijo servirá ou não de alívio bastante para a sobrecarga de passageiros na Portela está em equação a possibilidade de estar iminente a mudança de paradigma nas nossas sociedades de consumo. Apanhar um avião poderá a ser visto como motivo de vergonha para quem a tal se atrever, no que poderá constituir um primeiro passo para o decrescimento económico por que passará futuramente a preservação do nosso futuro neste planeta tão ameaçado. Tal decrescimento poderá significar o efetivo dobre de finados do sistema capitalista, geneticamente incapaz de conviver com os constrangimentos, que o impeçam de manter a espiral de consumo dos depauperados recursos naturais como se eles fossem infinitos. A ascensão dos partidos e movimentos ecologistas nas recentes eleições europeias prenunciam esse futuro  muito desafiante para as esquerdas ao exigirem-lhes a inserção das variáveis relativas á sustentabilidade do planeta nas suas estratégias socializantes.

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