Trump chegou à Casa Branca depois de primárias no Partido Republicano. Boris Johnson prepara-se para ocupar Downing Street com as primárias no seu Partido Conservador. François Hollande destruiu o Partido Socialista francês depois de por ele ser indigitado candidato ao Eliseu nas primárias de 2011. Idêntico destino teve o Partido Democrático em Itália, pálido sucedâneo do outrora pujante Partido Comunista Italiano, quando adotou as primárias como modo de expressão dos seus líderes.

Compreende-se o afã de tal gente. Medíocres no valor e incapazes de serventia nas carreiras profissionais para que deveriam ter-se esforçado, contam com a força da sua organização enquanto grupo para impor-se na conquista de cargos e lugares para os quais nunca têm revelado a mínima capacidade. Os “jobs for the boys” têm neles a mais eloquente demonstração de quem são e como atuam. E como outros argumentos não possuem apostam na falácia de “cumprirem a vontade dos militantes” quando, na prática, dão mostras de os quererem a léguas das suas decisões. Um exemplo: a concelhia do Seixal, que é uma das poucas arregimentadas em torno desse grupo, afastou os militantes mais antigos e conceituados para impor os seus sicários, quando estava em causa a decisão sobre a composição das mesas de voto nas recentes eleições europeias.
Adrião ilude-se com a possibilidade de enganar uns quantos e cumprir a sua desmedida ambição. Julga-se bom falante, quando, na realidade, o seu discurso monocórdico é o bastante para adormecer um pavilhão, que tenha a desdita de o ouvir, quando a mesa de um Congresso lhe dá a palavra por breves minutos. E porque veem os desejos frustrados os seguidores até inventam uma mentira descarada: a de que António Costa exigira primárias a António José Seguro para o substituir à frente do Partido Socialista. Esta é a gota de água que justifica vir aqui falar da vida interna do Partido de que sou militante, quando evito fazê-lo nas muitas vezes em que para tal me sentiria tentado. Mas, por uma vez, recorde-se que António Costa queria um Congresso formal e foi Seguro quem, inopinadamente, decidiu o lançamento de primárias julgando ser-lhe assim mais fácil derrotar o opositor.
Enganou-se para bem dos socialistas e, sobretudo, da maioria dos portugueses, que vêm usufruindo dos benefícios da governação competente destes últimos três anos e meio. Mas pelo facto de a exceção da regra se ter verificado nesse feliz exemplo, não significa que, no geral, as primárias sejam aquele tipo de bolos com que se enganam os tolos...
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