domingo, 23 de junho de 2019

Falando de Primárias e de Obnóxios


Trump chegou à Casa Branca depois de primárias no Partido Republicano. Boris Johnson prepara-se para ocupar Downing Street com as primárias no seu Partido Conservador. François Hollande destruiu o Partido Socialista francês depois de por ele ser indigitado candidato ao Eliseu nas primárias de 2011. Idêntico destino teve o Partido Democrático em Itália, pálido sucedâneo do outrora pujante Partido Comunista Italiano, quando adotou as primárias como modo de expressão dos seus líderes.
Poderia elencar aqui muitos mais exemplos de como a escolha de líderes partidários por meio da falsa democracia interna traduzida nas primárias é meio caminho andado para o desastre. Até Rui Rio nos pode aqui servir de exemplo. Razão para que tão estapafúrdia ideia não faça o mínimo sentido num Partido com Visão e Estratégia para se ocupar da governação de um país. E, no entanto, um pequeno grupo de militantes do PS, liderado por essa obnóxia figura que dá pelo nome de Daniel Adrião, quer que o Partido decida por esse processo a escolha dos seus deputados.
Compreende-se o afã de tal gente. Medíocres no valor e incapazes de serventia nas carreiras profissionais para que deveriam ter-se esforçado, contam com a força da sua organização enquanto grupo para impor-se na conquista de cargos e lugares para os quais nunca têm revelado a mínima capacidade. Os “jobs for the boys” têm neles a mais eloquente demonstração de quem são e como atuam. E como outros argumentos não possuem apostam na falácia de “cumprirem a vontade dos militantes” quando, na prática, dão mostras de os quererem a léguas das suas decisões. Um exemplo: a concelhia do Seixal, que é uma das poucas arregimentadas em torno desse grupo, afastou os militantes mais antigos e conceituados para impor os seus sicários, quando estava em causa a decisão sobre a composição das mesas de voto nas recentes eleições europeias.
Adrião ilude-se com a possibilidade de enganar uns quantos e cumprir a sua desmedida ambição. Julga-se bom falante, quando, na realidade, o seu discurso monocórdico é o bastante para adormecer um pavilhão, que tenha a desdita de o ouvir, quando a mesa de um Congresso lhe dá a palavra por breves minutos. E porque veem os desejos frustrados os seguidores até inventam uma mentira descarada: a de que António Costa exigira primárias a António José Seguro para o substituir à frente do Partido Socialista. Esta é a gota de água que justifica vir aqui falar da vida interna do Partido de que sou militante, quando evito fazê-lo nas muitas vezes em que para tal me sentiria tentado. Mas, por uma vez, recorde-se que António Costa queria um Congresso formal e foi Seguro quem, inopinadamente, decidiu o lançamento de primárias julgando ser-lhe assim mais fácil derrotar o opositor.
Enganou-se para bem dos socialistas e, sobretudo, da maioria dos portugueses, que vêm usufruindo dos benefícios da governação competente destes últimos três anos e meio. Mas pelo facto de a exceção da regra se ter verificado nesse feliz exemplo, não significa que, no geral, as primárias sejam aquele tipo de bolos com que se enganam os tolos...

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