É claro que não dei um cêntimo, ou um segundo do meu tempo, para as ditas comemorações do 10 de junho, data definitivamente conotada com o que dela fez o fascismo. E se, a posteriori, venho gastar algumas palavras é por as ver comentadas por amigos facebookianos, que terão passado pelo transe de ouvirem os bacocos discursos de Marcelo ou o do seu escolhido para a ocasião, obviamente carregado do bafio, que lhe varre o pensamento. Fica, pois, a compadecida simpatia por quem se dispôs a tal sacrifício, imbuído do sentido cívico de no-lo vir reportar.
No fundo, e a acreditar em tais testemunhos, tudo se ajustou: o filho de Baltasar (e afilhado de quem lhe deu o nome próprio) considerou que, para suceder a grandes intelectuais anteriormente comprometidos no esforço de desfascizar o evento, era altura de lhe dar a coloratura de tempos idos, quando se fazia anunciar como Dia da Raça ao som de estrondosas trombetadas.
Uma vez mais Marcelo confirma a impossibilidade de deixar de ser quem é: pode-se vestir hábito mais modernaço, ao jeito democrático da moda Primavera/Verão, mas esse passado sempre se impõe como tronco maior da sua personalidade. Resultado: sessenta anos depois o velho Marcelo não consegue dissociar-se do tempo em que, petiz, acompanhava o papá às cerimónias organizadas para contentar o ditador de Santa Comba Dão e se deixava por ele acarinhar.
Fazei vir a mim as criancinhas, ordenava Salazar com o pensamento nos pequenos lusitos a desfilarem com os calções seguros pelo elucidativo cinto com o «S» a lembrar quem mandava, e o gaiato Marcelo nunca mais esqueceria a devoção com que cumprimentava o objeto de adoração do progenitor.
Nada de novo, pois então, até porque o «intelectual» de serviço correspondeu em pleno aos motivos por que mereceu a incumbência: o discurso saiu-lhe rasteirinho à medida da medíocre dimensão do pensamento. No fundo Marcelo e Tavares merecem-se plenamente quando sugerem obsoletas reminiscências de um tempo que, decididamente, não volta para trás.
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